Uraniborg

 

Hoje em dia, ninguém duvida que a actividade humana tem vindo a exagerar na produção de gases de estufa, e já ninguém contesta que disso resultam temíveis alterações climáticas, entre as quais um certo aquecimento global.

 

É com base nesta asserção que, tal como toda a gente, eu vou a Copenhaga convicto de que no COP15 será possível alcançar acordos climáticos que de algum modo refreiem, e se possível inflictam, os evidentes distúrbios civilizacionais que, a nível micro e macro, pelo planeta já grassam – e embora já se saiba que, em Copenhaga, infelizmente não haverá vínculos de cruciais Estados (tal como em Kyoto), nada parece impedir que se alcancem decentes plataformas de mitigação e adaptação climática.

A ver vamos, mas, seja como vier a ser, do que ninguém duvida é que de Copenhaga sairá um reconhecimento quanto à urgente necessidade de se aprofundar, e por um zilhão, a compreensão dos mecanismos que influenciam a vida na Terra.

 

Não imagino que, por exemplo, de Copenhaga se saia sem um claro compromisso quanto à necessidade de que, ao invés de se censurarem, se estimulem as pesquisas cobrindo hipóteses abarcando o além do interface Terra-Homem – no mínimo para que não se registem maiores surpresas quanto ao modo como a Terra aquece … e resfria.

 

Tudo isto porque, embora o mais recente estudo IPCC (UN Intergovernmental Panel on Climate Change) seja taxativo quanto à decisiva contribuição antropogénica para a rápida subida de temperaturas, eu acredito que, para além destas influências humanas (gases de estufa, aerossóis e mudanças no uso dos solos p.e.), há também que tomar em conta a possível conexão entre as alterações climáticas e a actividade do Sol e Cosmos em geral. E é esta conexão Sol – Mudanças Climáticas a razão porque planeie uma visita a Uraniborg.

 

Mais do que recolher ideias e planos para configurar uma Casa do Sol (Inhambane), interessava-me respirar o espírito do lugar, na ânsia de conhecer modelos climatéricos que, ao contrário dos oficiais, não censuram a cosmoclimatologia – uma pesquisa envolvendo uma gama de disciplinas que vai da física espacial à ciência atmosférica, passando pela microfísica das nuvens.

 

E também isto porque, na senda de Tycho Brahe (1546-1601), um notável astrónomo dinamarquês que em Uraniborg (hoje Suécia) elaborou as seminais observações que permitiram a Kepler (1571-1638) formular as leis orbitais, 400 anos depois, um outro dinamarquês decidiu-se a procurar no Cosmos algumas das causas dos ciclos de aquecimento/resfriamento da Terra.

 

Henrik Svensmark, de seu nome, há mais de uma década que no Danish National Space Center desenvolve pesquisas procurando explicações astronómicas para as mudanças de temperatura na Terra - segundo ele, o Sol e as estrelas poderão explicar boa parte das anomalias térmicas neste nosso diminuto planeta.

 

Para este grupo DNSC, as alterações do campo magnético do Sol, e não apenas os gases de estufa, poderão estar fortemente relacionadas com o recente escalar das temperaturas terrestres.

 

Svensmark et al escoram a sua pesquisa teórica em observações que mostram um correlação surpreendentemente forte entre raios cósmicos e nuvens de baixa altitude na Terra. Segundo os dados da equipa dinamarquesa, a cobertura de nuvens tem aumentado quando a intensidade de raios cósmicos cresce, e diminuído quando tal intensidade declina.

 

A questão das nuvens de baixa-altitude é significativa já que são elas que nos escudam dos impactos térmicos do Sol; por exemplo, uma cobertura de nuvens baixas pode variar 2% em cinco anos, afectando a temperatura da Terra por valores que podem atingir 1.2 watt/m2 durante o mesmo período – um valor que pode e deve ser comparado com os 1.4 watt/m2 que o IPCC estima para o efeito de estufa do nosso impacto, no ar, em resultado das emissões de dióxido de carbono (CO2) desde a Revolução Industrial.

 

Na sua formulação teórica, estes pesquisadores agruparam vários fenómenos bem estabelecidos cientificamente, como por exemplo, o facto de o campo magnético do Sol, que é variável, poder impedir que, por deflecção, boa parte dos raios cósmicos penetre a atmosfera terrestre – o que poderá ter acontecido durante o século XX , época em que o campo magnético do Sol duplicou a sua potência.

 

Daí que seja relevante a questão: poderá a diminuição da intensidade de raios cósmicos que nos atinge (e respectivas consequências em termos de potência iónica) desfavorecer a formação de nuvens-baixas, e assim contribuír para o aquecimento da Terra? Se sim, em que magnitude?

 

josé lopes

 

novembro 2009

 

 

 

xitizap # 50

 

 

dezembro 2009

 

Uranienborg (em sueco Uraniborg)

foi um observatório astronómico concebido e operado por Tyge (latinizado como Tycho) Brahe (1546-1601) na pequena ilha de Hven situada num braço báltico relativamente perto de Copenhaga.

 

Financiado pelo rei dinamarquês Frederick II, e dedicado a Urania, a musa da Astronomia, Uranienborg continua a ser, historicamente, um dos projectos governamentais mais caros de sempre (1% do orçamento reino).

Mas esse foi o custo de se investir numa das certezas de Tycho Brahe: o conhecimento astronómico depende da observação rigorosa dos astros.

 

Uma das conclusões a que Tycho Brahe rapidamente chegou após a construção de Uranienborg (circa 1576-1580) foi que as observações astronómicas são muito pouco compatíveis com as distracções que o seu observatório concentrava (alquimia e salões de gozo cortesão) - e muito menos com trepidações e ventos fortes.

 

Tyhco Brahe decidiu então construir Stjerneborg (Castelo das Estrelas), um outro observatório nas proximidades. Mais pequeno, e apenas dedicado a observações astronómicas, este observatório foi o precursor da instalação subterrânea de equipamentos e do uso das plataformas e cúpulas deslizantes que ainda hoje são utilizadas nos observatórios modernos.

 

Em vida, Tycho Brahe nunca publicou as suas extensas observações, mas, felizmente, Johannes Kepler, que com ele trabalhou vários anos, tinha acesso privilegiado aos manuscritos - e ainda bem, porque, pouco tempo depois após a morte do mestre dinamarquês, foi com base nas observações de Uraniborg que Kepler viria a estabelecer as primeiras leis orbitais.

 

Após um diferendo com o novo rei (Christian IV), Tycho Brahe não quis confrontar-se com asfixias orçamentais e, em 1597 abandonou a ilha de Hven. Quer Uranienborg, quer Stjerneborg, viriam a ser destruídos pouco tempo após a morte de Tycho Brahe (1601). Nos anos 1950’s, o Reino da Suécia (novo soberano da ilha desde meados do século XVII) procedeu a escavações arqueológicas que permitiram restaurar parte do observatório de Stjerneborg.

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Stjerneborg.

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