a evolução do Homem não para

 

os factores que moldaram a emergência dos modernos humanos em África continuam a influenciar a evolução das espécies. Contudo, a arrogância e complacência poderão tentar as sociedades de hoje a subestimarem a sua continuada vulnerabilidade face a tais factores.

 

esta notável lição retirada do estudo da história humana foi realçada por Dr. Chris Stringer, responsável por Origens Humanas no Museu de História Natural (Londres) e personalidade de liderança no desenvolvimento da teoria Out of Africa relativa às origens dos modernos humanos.

 

Embora haja unanimidade quanto à importância de África na emergência dos modernos humanos, muitas questões permanecem ainda por responder – nomeadamente

 

o que foi que tornou África tão importante ?

 

a este respeito, Dr. Stringer especula que talvez isso se deva ao facto de a própria dimensão do continente ter permitido que África haja conservado a diversidade, o material genético e as inovações no comportamento humano, melhor do que em outras áreas ... e que talvez seja essa a razão pela qual África domina as origens dos humanos modernos.

 

por outro lado, acontecimentos casuais poderão ter igualmente jogado um papel crucial.

e cita-se como exemplo um pico da Idade do Gelo há 20 000 anos. Um súbito arrefecimento que tornou inabitáveis vastas áreas do mundo e que poderá ter sido a causa decisiva na concentração de populações de humanos nos chamados “engarrafamentos”. Concentrações estas que poderão ter funcionado como estímulos à evolução de traços regionais nos modernos humanos.

 

acontecimentos casuais poderão ter contribuído para a evolução dos modernos humanos, como o clima e o isolamento, e isto poderá voltar a repetir-se de novo. Por isso, quando se tenta reconstruir em detalhe os acontecimentos que nos levam às origens africanas da humanidade não deveremos esquecer as lições do passado.

 

... os registos evidenciam que, no passado, os humanos foram muito vulneráveis, e por essa razão não nos devemos tornar complacentes e arrogantes dado que estes factores continuam a jogar um papel na evolução.

 

Segundo Dr. Stringer, existe unanimidade acerca da importância de África na história da evolução humana, da emergência do Homo erectus há cerca de 1.5 milhões ou 2 milhões de anos atrás, e da primeira dispersão para fora de África (out of) provavelmente há 1.8 milhões de anos. Contudo, permanecem por esclarecer algumas questões relativas à evolução dos traços e características dos modernos humanos, bem como quanto aos detalhes da migração ou dispersão de espécies por todo o mundo.

 

Dr. Chris Stringer afirma apoiar o modelo origens-africanas-recentes, mas acrescenta:

Não podemos dizer com confiança em que parte de África se originaram os modernos humanos. É difícil apontar um local. Neste momento, a minha opinião é que poderá ter havido um processo multi-regional no seio de África. Possivelmente, a evolução ocorreu não apenas numa zona. Poderão ter-se registado fluxos genéticos (movimentos de genes por reprodução, e não tanto por movimento de populações) – tal como o espalhar de ideias e tecnologias no interior de África.

 

E um interessante indicador dos acontecimentos evolucionários dos últimos 30 000 anos é que “os traços regionais modernos” não estão expressos nos achados de crânios do principio deste período – o que sugere que as características regionais ainda se encontravam em evolução.

Entre outros, este é um dos elementos que necessita de mais estudos. E recorde-se que os anteriores registos da evolução eram dispersos e nem sempre correctamente datados, pelo que permanece pouco claro quão grande foi o centro das origens em África - e quão variada era a antiga população.

 

No encerramento desta sessão da conferencia, o Professor Philip Tobias -decano da pesquisa sobre as origens humanas na África do Sul -  notou que na dispersão dos modernos humanos para fora de África era importante reconhecer que, ao se pesarem as influencias de África noutras partes do mundo, a relação não deveria ser caracterizada com um tráfego de sentido único.

 

 

Crise à mesa?

 

por Mac Margolis

Newsweek (june 9, 2003)

adaptação xitizap para português

 

No Brasil, as laranjas são um grande negócio.

Empregam 400,000 pessoas, e valem 1.2 biliões USD em exportações anuais e 7 dos 10 sumos de laranja bebidos no mundo são espremidos a partir da laranja brasileira. Mas, por agora, esta benesse parece estar em perigo.

 

Há 2 anos que uma misteriosa doença começou a atacar as raízes e nervuras das laranjeiras. Em questão de semanas as árvores definharam, e as esplendidas copas mais parecem cabeleiras de bruxa.

 

Os cientistas chamam a isto morte súbita.

Mas Marcos Schrank, um agricultor de São Paulo que recentemente destruiu 12,000 árvores afectadas, tem um outro nome para a coisa. “Isto - diz ele – é parecido com a SIDA.”

 

Em rigor, a coisa parece-se mais com a tristeza da laranja - um vírus que devastou os campos brasileiros nos anos 1940s. Em poucos anos, a doença matou todas as variedades de laranjeira do Brasil, excepto uma: o limão cravo.

 

Desde então, os plantadores brasileiros passaram a reverenciar o limão cravo como uma espécie milagreira. E nela basearam a renovação de toda a indústria laranjeira.

Como todos os outros agricultores, eles sabiam que plantar uma única espécie é maluqueira. A história está cheia de catástrofes da monocultura. Das bíblicas pragas de gafanhotos, à fome da batata irlandesa. Mas, mesmo assim, os laranjeiros do Brasil aceitaram o risco.

 

No fim dos anos 90 (século passado, oh kotas) o Brasil havia ultrapassado os USA na produção de laranjas e, hoje, 85% dos 200 milhões de laranjeiras do Brasil resultam de enxertias do limão cravo. Todavia, e numa irónica pirueta, os cientistas acreditam que o novo vírus poderá ter laços de parentesco com a tristeza da laranja – agora regressada para clamar a vida da única árvore que se salvou durante a anterior epidemia.

 

Desde que caçadores e colectores começaram a traçar espadas em nome de sementes que os farmeiros mantiveram guerras com germes e pestes. Normalmente, os produtores acabavam por se impor aos patógenos. Mas, actualmente, as paradas são infinitamente mais altas.

 

Farms à antiga, com um mosaico de diferentes vegetais, frutas e cereais plantadas numa mesma área nunca foram muito eficientes, mas a diversidade de culturas ajudava a prevenir perdas catastróficas em caso de doenças.

Contudo, na corrida para alimentar os actuais biliões do mundo, a diversidade foi sacrificada no altar da eficiência. E a agricultura é hoje feita à escala industrial com enormes áreas dedicadas às monoculturas.

 

Hoje em dia, um cada vez mais pequeno punhado de agricultores desenvolve massivas quantidades de super-culturas que sufocam as terras cobrindo-as por tapetes sem fim – com rendimentos bombeados por irrigação intensiva e fertilizantes sintéticos. Mas estas vastas áreas acabaram por se tornar em alvos cada vez fáceis para as pestes e patógenos – o que leva os agricultores a utilizarem doses cada vez maiores de insecticidas e antiparasitas.

 

Os mais poderosos instrumentos hoje ao dispor da defesa da revolução verde – nomeadamente as culturas geneticamente modificadas (GMC) – permanecem tabu em muitos países. O que deixa os agricultores em situação de desvantagem. E se uma solução não for encontrada, muitos cientistas acreditam que as crises alimentares aumentarão, e tornar-se-ão mais devastadoras. E, eventualmente, poder-se-á concluir que a produção alimentar que hoje assumimos como um dado, poderá vir a falhar.

 

A revolução verde, largamente baseada em monoculturas, salvou da fome muita da população mundial em risco devido à sobre-população – mas à custa da diversidade. De acordo com Jared Diamond na revista Nature, os primeiros agricultores permitiam-se seleccionar por entre 200,000 espécies de plantas selvagens e 148 animais selvagens – hoje, apenas 100 variedades de plantas e só 14 diferentes animais são rotineiramente cultivados.

 

A extensão ordenada de uma simples cultura como o trigo ou soja é conveniente em termos de plantio e colheita, e garante grandes lucros para as empresas que vendem toneladas de super-sementes. E desde há muito que a organização dos campos tem sido o meio mais eficiente para pôr comida num cada vez maior número de mesas.

Ainda o é, mas os ganhos começam a reduzir-se. Dos campos de trigo do Kansas aos arrozais do sul da China, os agricultores passaram a travar batalhas diárias com uma legião de inimigos microscópicos. Só nos USA, as pestes e doenças devoram colheitas no valor anual de 90 biliões USD.

Pior ainda, estas doenças passaram a viajar pelo mundo a bordo de aviões, navios e camiões – e mesmo agarradas às solas dos sapatos ou sopradas pelos ventos. Os oficiais das alfândegas dos USA intersectam anualmente cerca de 13,000 plantas exóticas doentes, mas isso apenas corresponde a 2% do tráfego que ali chega.

 

Se a mobilidade torna os germes mais perigosos, a monocultura torna os agricultores mais vulneráveis. Tal como as famílias, as monoculturas estão marcadas por genes quase idênticos. “Se há um defeito hereditário, todas as crias são vulneráveis” - segundo diz Zhu Youyong do Laboratório de Fito-Patologia da província chinesa de Yunnan. “Hoje, poderemos não ser capaz de visualizá-la mas, no futuro, a monocultura tornar-se-á uma ameaça para o fornecimento alimentar mundial.”

 

O lado negro da monocultura torna-se cada vez mais aparente. A mais recente doença da batata – um primo do fungo que devastou a Irlanda – é hoje mais intratável que há 2 séculos atrás. E, por todo o mundo, esta doença causa prejuízos anuais de 2.7 biliões USD.

Para os pequenos agricultores, o impacto das doenças é ainda mais devastador. Nos vastos e populosos estados indianos de Uttar Pradesh, Bihar, Bengala Oeste e partes de Assam, os cultivadores de arroz apenas plantam a variedade Mahasuri – o que os deixa largamente vulneráveis às doenças.

Por seu lado, os agricultores chineses perdem 10% das suas colheitas de arroz devido ao rice blast, enquanto que a ferrugem do trigo destrói 20% destes grãos.

E enquanto os potentados batateiros da América do Norte se queixam que o bligth lhes diminuiu os lucros, recorde-se que na empobrecida Rússia a batata é a refeição seguinte. E recorde-se ainda que no estado indiano de Andhra Pardesh uma crescente praga de vermes tem vindo a agravar a já asfixiante dívida dos pequenos agricultores – desesperados, mais de 10,000 camponeses suicidaram-se nos últimos 10 anos.

 

Para o pequeno agricultor, uma colheita falhada significa fome.

 

Na Ásia, os rendimentos de arroz têm vindo a estagnar ao longo da última década. Com cada vez menos água disponível, os níveis de irrigação diminuíram 10% per capita nos últimos 25 anos. E à medida que a revolução verde perde momentum, a pressão sobre os agricultores para que cultivem mais será cada vez maior. Para David Pimentel, um ecologista agrícola de Cornell, “estamos no limite do modelo. “

E entretanto, os demografos antecipam que, para além de uma população mundial de 9 biliões em 2050, a procura de comida aumentará 2 vezes e meia impulsionada por crescentes receitas familiares.

 

Para que se saque mais comida da Terra, os produtores terão que obter melhores rendimentos dos mesmos terrenos cansados – empestando os solos com fertilizantes e pesticidas – ou então, eles serão obrigados a empurrar as culturas para solos mais fracos e a derrubar florestas. Cada colheita trará mais erosão, poluição e salinização de solos – numa trajectória que não será sustentável a longo prazo.

 

Na China de hoje, as plantas criadas para resistirem às doenças, apenas duram 5 anos até que os germes as derrubem. E nos USA, os híbridos de milho permanecem sem doenças não mais que 4 anos – ou seja, metade do que resistiam há 30 anos. Hoje em dia, os insectos são capazes de vencer os melhores pesticidas em menos de 10 anos. E note-se que, actualmente, os fungicidas e pesticidas constituem ¼ dos custos para os plantadores de bananas.

Na verdade, os fertilizantes acabam por ser agentes duplos: “Estamos a alimentar as plantas e a torná-las mais nutritivas – mas as pestes também gostam disso” diz David Pimentel. E, segundo ele, apesar do uso de 2.7 biliões de kilos de pesticida por ano, o mundo perde 40% da produção alimentar potencial.

 

A banana poderá ser a pior vítima das plantações modernas.

Cerca de 500 milhões de asiáticos, africanos e sul-americanos dependem dela para calorias e receitas – contudo, poucas são as culturas tão amaldiçoadas como a banana.

Emile Frison, chefe do IPGRI (França) estima que 40 a 50% das colheitas mundiais de banana se perdem devido a insectos e doenças. Há 10 milénios, a banana era uma fruta grande, e cheia de amido – com sementes do tamanho de pedras. Mas os agricultores primitivos seleccionaram cuidadosamente estes raros frutos comestíveis e, com o tempo, a banana transformou-se num elegante fruto dourado - doce e macio. Das 500 variedades, as pessoas do mundo rico apenas conhecem a Cavendish – uma gigantesca cultura de rendimento.

 

O problema é que, a perfeita banana Cavendish é estéril. Séculos de cuidadosa reprodução transformaram as viris sementes em pequenas pevides assexuadas. Na natureza, a reprodução sexual equipa a planta com um sortido de genes que por várias vezes se vão miscigenando em cada geração – o que as torna um alvo sempre em movimento para as doenças.

A casta Cavendish é uma variante forçada – e a sigatoca preta, que antigamente era um fungo raro, tornou-se hoje uma epidemia. Por isso mesmo, os plantadores de banana são obrigados a espalhar fungicidas – frequentemente 50 vezes ao ano – e a um custo que obrigará esta banana a ser retirada do mercado.

 

A tarefa dos cientistas é encontrar um modo de produção alimentar eficiente – mas que ao mesmo tempo mantenha o planeta saudável.

A engenharia genética poderá ajudar a melhorar a imunidade em plantas estéreis (como a banana) ou naquelas em que virtualmente todas as variedades são vulneráveis (batata e papaia). O agrónomo brasileiro Manuel Teixeira engenheirou papaias que resistem ao vírus ringspot, causador de mais de 35 milhões USD de prejuízos anuais. Mas o Brasil ilegalizou as culturas transgénicas. “O que é extremamente frustrante”” segundo Teixeira.

 

Um outro caminho poderá ser o jogar-se com a diversidade.

Há 30 anos, no auge da revolução verde, um punhado de geneticistas percorreram vilas e florestas recolhendo variedades de plantas que não haviam sido destruídas – e cerca de 6 milhões de amostras foram mantidas em gelo em mais de 1000 bancos de genes. Zhu Youyong acredita que após milénios de culturas descartadas, os agricultores poderão usar estas sementes perdidas para ressuscitarem a variedade nos seus campos.

Quando ele recomendou aos camponeses de Yunnan que plantassem duas diferentes variedades de arroz, e assim imitassem as naturais barreiras genéticas anti-doença, as perdas devido ao blight e blast caíram significativamente.

 

Experiências como a de Zhu oferecem uma saída para a armadilha da monocultura – mas será que elas surtirão efeito ?

A história não é encorajadora, e em mais de 100 anos apenas umas poucas plantas selvagens foram adicionadas à dieta alimentar dos humanos – morangos, amoras, p.e.

“Toda a gente sabe que para produzirmos mais comida, teremos que ir à fonte da diversidade - e, segundo Tilman -  é necessário olhar para a agricultura não em termos de futuro imediato, mas antes em termos dos próximos 10,000 anos.”

 

Note-se que este tipo de perspectiva usualmente só aparece em tempos de crise.

xitizap # 4

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