o genoma humano e áfrica |
Albie Sachs em éticas
Juiz do Tribunal Constitucional da África do Sul, Albie Sachs fez soar um alerta ético ao chamar a atenção dos conferencistas para a possível má-utilização das novas pesquisas genômicas.
Ele referiu que, na complexidade do debate genético, não há lugar a respostas lineares na maior parte das questões, mas que era importante a adopção de uma abordagem ética num quadro que ele sumariou como os 3 Ds – Diálogo, Diferença e Dignidade.
Para Albie Sachs, a Dignidade humana deverá ser o ponto de partida – e não o lucro, ou o mero avanço da ciência.
E considera que a metodologia será particularmente aplicável em África porque, apesar de rico em recursos genéticos humanos o continente em nada parece beneficiar dessas novas pesquisas genéticas.
O Juiz prossegue, referindo-se à imperiosa necessidade de criação de um Diálogo entre cientistas, governos e ONG’s - um diálogo que permita a adopção de uma matriz mais-universal na pesquisa genética.
No processo, Albie Sachs identifica alguns perigos:
1.a sociedade fatalista – a pesquisa genética poderá levar as pessoas a sentirem que não têm qualquer controle sobre o seu destino, e que as escolhas morais em particular não terão cabimento.
2. o apartheid genético – os avanços científicos poderão levar à emergência de uma subclasse a ser discriminada por empregadores e companhias de seguros com base na sua predisposição genética.
3. a sociedade narcisista – na qual as pessoas poderão desenvolver fixações em torno da possibilidade de alterarem geneticamente as suas aparências físicas, ou mesmo pretenderem bebés com designs específicos.
4. uma sociedade mais exploradora – onde a pesquisa genética poderia aumentar o racismo e as diferenças entre povos ao invés de providenciar uma força unificadora para a sociedade.
Apesar dos perigos, o juiz Albie Sachs refere que África necessita envolver-se no projecto do genoma humano dado que ele encerra a chave africana das origens humanas.
E, no continuar da conferencia, o Professor Udo Schuklenk (director de Bio Ética na Universidade de Wits) referiu a questão do consentimento como uma outra questão central na ética genômica.
isto porque, muito frequentemente, a recolha de material genético de pessoas e comunidades tem sido feita sem consentimento, ou sem que as amostras tenham sido colhidas com adequada informação. |
Ciência e TecnologiaMinistro Dr. Ben Ngubane (RSA) lança um desafio aos cientistas
Os cientistas foram desafiados a colocarem de lado os seus egos e ambições pessoais e a trabalharem unidos com vista a assegurar que África não se atrase face aos espectaculares progressos na pesquisa e desenvolvimento do genoma.
O desafio foi lançado por Dr. Ben Ngubane (Ministro das Artes, Cultura, Ciência e Tecnologia da África do Sul) no seu discurso inaugural da conferência O Genoma Humano e África
O Ministro advertiu ainda que, na ausência de uma abordagem concertada e colaborante na pesquisa e educação científica, quer a África do Sul quer África arriscam-se a ficar na cauda do pelotão.
Segundo Dr. Ben Ngubane
Após o fosso digital, a ameaça de um segundo fosso aumentando a separação entre os-que-têm e os-que-não-têm, surge agora no campo das tecnologias e estudos genômicos. No mundo em desenvolvimento, temos um forte incentivo a tornarmo-nos activos ao invés de participantes passivos nestas novas áreas da ciência e tecnologia - as doenças infecciosas e pestes agrícolas estão mesmo aqui, e não será necessário observar as reportagens televisivas ao fim da noite para que nos engajemos numa boa luta. ... não nos podemos dar ao luxo de estabelecer silos independentes, e nem egos e agendas pessoais poderão impedir que se criem centros de excelência e programas de capacitação institucional que permitam emular a performance do Brasil, Índia e China nestas novas áreas biológicas.
O Ministro sul-africano enfatizou ainda a potencial contribuição do conhecimento genômico para o bem estar humano e sua sustentabilidade – incluindo no modo de lidar com os mortais patógenos tão prevalecentes em África, como nos casos de SIDA, Tuberculose e Malária.
E, em jeito de observação final, o Ministro alertou os conferencistas quanto aos riscos e desafios éticos e legais que se avizinham - o que exige populações adequadamente informadas |
Africa Genome Initiative
de 19 a 22 de Março 2003, decorreu em Spier Estate (Stellenbosh - RSA) uma conferência internacional dedicada ao tema O Genoma Humano e África.
A conferência - que reuniu pela primeira vez cientistas, educadores e pesquisadores da genômia, incluindo 2 laureados Nobel - tinha como propósito a avaliação do impacto que em África eventualmente terão os recentes e dramáticos desenvolvimentos desta ciência. Note-se que África - berço da humanidade - faz face a cruciais batalhas contra a malária, tuberculose e HIV/SIDA, e essa terá sido a principal razão que motivou este naipe de cientistas a uma primeira especulação conjunta sobre o tema.
Em suplemento especial, o Mail & Guardian (Junho 6, 2003) publicou alguns resultados desta conferência que xitizap resume e traduz para português.
Check a cobertura detalhada da conferencia em www.africagenome.co.za
Entretanto, a revista Nature (Junho 2003) publica 2 artigos científicos sobre a descoberta de 3 crânios de hominídeos em Herto (Etiópia) em 1997. Coordenada por Tim White, esta equipa científica revela conclusões revolucionárias sobre as origens africanas do homem moderno - e xitizap traduz alguns extractos desses artigos. Os textos são longos, mas de peso. |
Genoma s.m.
GEN 1 conjunto haplóide de cromossomos característicos de cada espécie; 2 conjunto de todos os genes de uma espécie de ser vivo |
xitizap # 4 inverno 2003 |
xitizap # 4 |
Pátria que me Pariu |
Matias Ntundo |
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A criança de Herto |
Crise à Mesa? |
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