xitizap # 44

 

março 2009

xitizap # 44

descontentamento CESUL

quer 1600 MW ?

Cahora Bassa é possível

procrastinando

oportunidade imobiliária

soltas

 

CESUL - o inverno de um outro descontentamento

 

Há sensivelmente 10 anos que, em vão, as autoridades moçambicanas tentam comercializar mais uma barragem hidroeléctrica no Zambeze – Mphanda Nkuwa (1300 MW)-, e várias são as razões para tamanho insucesso: erros técnicos, sobranceria financeira e ambiental, mas, sobretudo, uma notória incapacidade para contratar-se mercado que a viabilize (exportação Eskom p.e.).

 

Com o objectivo de se facilitar ainda mais esta compulsiva obsessão em comercializar uma extemporânea barragem, e esgotados que estão os seus múltiplos argumentos promocionais, as autoridades electro-estatais optaram recentemente pelo desdobramento do pacote inicial (barragem/central + transmissão 1500 km) criando um novel arranjo que descarta o promotor Mphanda Nkuwa de quaisquer responsabilidades a nível da caríssima transmissão.

 

Invocando, ora razões de Estado (transmissão nacionalista), ora imaginárias demandas eléctricas (Mozal 3, areias de Chibuto et al.), os planificadores estatais decidiram-se agora pelo marketing de um luxuoso evacuador eléctrico – a CESUL.

 

Sem acordos de compra que se vejam (um PPA 70/30 p.e.), as autoridades garantem-nos que, em 2013, os fios da CESUL partirão de Tete a 765 kV (AC) em direcção à costa sul de Moçambique num percurso de 1500 km em que serão plantadas quatro mega-subestações (Chibata, Vilankulu, Chibuto e Marracuene —tudo isto nos próximos 4 anos.

 

A crer nos media, as autoridades não temem hipotéticos efeitos recessivos, e admitem até recorrer a uma engenharia financeira sui generis: por imperativo da planificação estatal, os 2.2 biliões USD da Fase 1 (CESUL 765 kV AC) deverão estar operacionais em 2013  - ou seja, antes mesmo que Mphanda Nkuwa ou Moatize/Benga eventualmente produzam quaisquer electrões.

 

Por agora, não estou numa de me distrair com a (im)plausibilidade de parcerias privado-públicas (PPP) que possam sustentar este modelo de negócios – nisto, cada um pensa como cada qual.

 

Parece-me é importante lembrar aos planificadores estatais que, mesmo em sonhos, quando um dia pensarem em apertar o botão desta linha imaginária 765 kV (AC), as vossas quatro subestações não funcionarão.

Kaput!, com exportação Eskom ou não.

 

E a razão é simples, como vos dirá qualquer credível fabricante de equipamentos.

 

Pelo que sei, em nenhuma das projectadas subestações existirá, nos próximos 5/7 anos, consumo que satisfaça os requisitos primários de qualquer electrotecnia 765 kV—na verdade, de Chibata a Marracuene, passando por Vilankulu e Chibuto, tudo somado, a carga eléctrica totalizará menos de 2 %, repito, menos de dois por cento das capacidades que têm que ser necessariamente instaladas; o que significa que estas bilionárias subestações 765 kV estarão irremediavelmente condenadas a um regime de vazio que a electrotecnia nunca suportou.

 

Ainda neste entretanto, olhe-se para Moçambique 2009, tente-se uma estimativa quanto ao que custa investir num novo MW de consumo eléctrico, e confronte-se-a com o carrossel de subestações 765 kV ora proposto.

 

Sugiro mesmo que, para se facilitar ainda mais a simplicidade do raciocínio, se use o exemplo de uma alumineira -  um caso extremo de intensidade eléctrica; uma maximização industrial que rapidamente permitirá constatar porque é que qualquer “pequenita” subestação 765 kV exigirá, a montante, um investimento de 2 biliões de USD em consumos electricamente intensivos.

 

Extrapole-se agora essa estimativa para cenários mais plausíveis (outras indústrias (semi)pesadas de transformação, regadios e agro-indústrias, nosotros, et al.), e deduza-se o sagrado investimento que terá que cair do céu a qualquer uma destas quatro subestações.

 

josé lopes

 

março 2009

 

 

(1) - Toponicamente frágil, Mphanda Nkuwa (link) continua a ser indistintamente referida como Mepanda Uncua, Mpanda Nkuwa, Mpanda Nkua, e mesmo 莫桑比克.

 

(2) Quando se fala em Marracuene, é bom saber que, pelo menos em Maputo, não passa pela cabeça de ninguém arcar com tarifas superiores às actuais HCB+Eskom+Motraco+EDM.

 

Mphanda Nkuwa

 - velhas notícias (Jan 2008)

 

Camargo Correêa obtém contrato de US$ 3,2 bilhões em Mphanda Nkuwa (24/01/2008)

fonte : Valor Econômico

 

Ao contrário do modelo brasileiro, por exemplo, em Moçambique 2007 não houve disputa para construir e operar o complexo hidroeléctrico de Mphanda Nkuwa e uma rede de transmissão ligando a região central do país à capital Maputo, de 1,4 mil quilômetros de extensão.

 

Sabe-se é que, com a conquista desta obra, a Construtora Camargo Corrêa praticamente dobra o volume total de contratos a executar  -hoje a empresa factura R$ 3,3 milhões (a ideia que tenho é que se trata de biliões R$  e não milhões como refere a Electro Sul (Electrobrás) n.e.)

 

Check mais detalhes em

 

http://www.eletrosul.gov.br/gdi/gdi/index.php?pg=cl_abre&cd=ghmedb3!AWjhi