Não importa se o gato é preto, ou se é branco.
Importa é que ele caçe o rato!
- Deng Xiaoping
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xitizap # 36
nov 2007
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xitizap # 36 |
bom dia Cahora Bassa |
o veto dos comissários |
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Sambódromo Zambeze
Foi sem hesitações que em Outubro 12 aceitei um convite para colaborar num projecto de produção de electricidade baseado no gás natural de Pande/Temane.
A racional do projecto era boa, o investidor estratégico era sério e experimentado, e o investimento poderia materializar um velho sonho meu quanto à necessidade de se melhorar a segurança de fornecimento eléctrico em Moçambique.
Havia provavelmente que refinar a escala, siting e configuração técnica do projecto (CCGT1 -700 a 1000 MW) em função da negociação do gás natural e dos apetites ESKOM mas, para mim, tudo isto representava um empolgante desafio.
Mais chato, e sem dúvida menos interessante, era ter que aturar o comissariado EDM. Encapsulados no seu monopólio de transmissão, certamente fincariam pé nos seus absurdos e dispendiosos sistemas de transmissão eléctrica - e na sua percepção voluntarista do mercado ESKOM; para não falar da Mozal III que, apesar de há muito suspensa pelos alumineiros, continua a fazer parte do cardápio de slide-shows EDM; para não falar também no smelter de ilmenite que, enganosamente, eles insistem em colocar no Chibuto e não na Matola como o investidor já fez saber.
Havia pois que forjar um ambiente de tranquilidade técnico-económica que permitisse refinar a configuração de um bilião de dólares de investimento.
Não tive contudo tempo para isso. Doze dias depois de ter aceite o convite, o comissariado EDM fazia saber ao parceiro que me havia convidado que a minha presença não era desejável. De então para cá, as trapalhadas sucedem-se a velocidade vertiginosa.
Certamente por acaso, esta cascata de prepotências ocorreu poucas semanas depois de mais um flop no Sambódromo Mphanda Nkuwa. Na verdade, a 27 de Setembro, os novos proponentes desta extemporânea hidroeléctrica admitiam em público não dispor de qualquer financiamento chinês2 nem de qualquer outra fonte credível, e, na senda do mais barato ilusionismo, atiraram para o ar novas toneladas de papel – segundo os media, os novos proponentes Mphanda Nkuwa afirmavam dispor de soluções técnicas capazes de contornar os previsíveis danos ambientais do empreendimento e, agora subindo a parada para 1500 MW a USD 1.6 biliões, gabavam-se poder construí-lo em período recorde de 52 meses e não em 73 como inicialmente previsto– um autêntico guiness em construção de barragens. Quanto à transmissão Mphanda Nkuwa - Maputo, nada do outro mundo – USD 1.7 biliões (opção 1) ou uns meros USD 2.3 biliões (opção 2).
No entretanto, note-se que este notável arrojo de neo-empreendorismo privado - generosamente alavancado por fundos públicos portugueses (CGD) - emerge no meio da confusão agora lançada quanto às regras do novo jogo eléctrico em Moçambique. E de duas uma – ou o show no sambódromo foi pura perda de tempo, ou então andam por ali aspirações à escrita das novas regras.
Não sei. E apesar de entre Mphanda Nkuwa e CCGT Temane existirem potenciais zonas de concorrência mid-merit ESKOM, eu estou-me francamente ralando já que são frágeis as pernas que a coisa tem para andar.
Contudo, e não vá o diabo tecê-las, mesmo vetado continuo a achar por bem ir para a cama com o gás natural, e até com o carvão de Moatize, para melhor fornicar esta extemporânea hidroeléctrica – foi o que aprendi com o grande Deng Xiaoping.
josé lopes
novembro 2007
1 CCGT – Combined Cycle Gas Turbine (central a gás ciclo combinado)
2 China – durante dias os media locais especularam sobre um hipotético financiamento chinês a esta aventura empreendedora. Só mais tarde é que soube que tudo parece ter derivado de uma singela confusão: a China de que eles falavam não era a República, mas apenas a alcunha com que carinhosamente é tratado o Senhor Camargo (fundador da Camargo Corrêa). |
em conferência de imprensa sobre hidroeléctricas em Moçambique (Nov 21,2007), o Ministro da tutela deixou saber que a multinacional BHP Billiton teve oportunidade de analisar os 20 milhões USD de estudos que Moçambique já pagou sobre Mphanda Nkuwa.
Entretanto, uma pequena parte destes estudos – o mandatório Estudo de Impacto Ambiental – continua vedado ao escrutínio público, apesar das múltiplas solicitações de partes públicas.
Nessa mesma conferência de imprensa soube-se também que após análise do epifenómeno Mphanda Nkuwa, a BHP Billiton (Mozal III) não se deixou levar por aventuras …. e mandou-os dar uma volta! |