xitizap # 22

Cahora Bassa: um bom acordo

o valor da HCB

Arquimedes e o Zambeze

Dr. Strangelove na Mozal

mundo ao avesso

rapidinhas

 

Dr. Strangelove na Mozal

 

Tem sim ! Tem sim !

 

reclamou estridentemente o Herr Direktor da Mozal em resposta à minha observação quanto a inadequados planos de contingência.

 

Note-se que, mui timidamente como é meu hábito, eu apenas procurava recordar o que a Mozal tinha confirmado meses antes aquando da avaria grave no Centro de Tratamento de Fumos no smelter Bayside (check e-mail Mozal em xitizap # 18).

 

Megafone na mão, e olhos faiscando o que me pareceu ser flúor, Herr Direktor pulou auditório acima com um sorriso que prenunciava um golpe decisivo. E confesso que, por momentos, cheguei a pensar que era dessa que ele me cozinhava – num grande pot de ebuliente alumínio.

 

De súbito, Herr Direktor muda o tom e, fascinado, começa a contar uma estória de fadas.

 

Tudo se passava em cenários de Centros de Controle de Emergência da BHP Billiton: salas enormes onde freneticamente pululavam batas imaculadamente cinzentas, paredes repletas de écrans vomitando cotações das bolsas várias, baterias de computadores piscando frenéticos alarmes – e sobretudo muitos relógios mostrando a hora local em cada um dos muitos centros de risco industrial da BHP Billiton.

 

O controle de contingências BHP Billiton parecia saído de uma cenografia de Stanley Kubrick e, com o devido respeito a Peter Sellers, a coisa fazia-me lembrar Dr. Strangelove.

 

Segundo o Herr Direktor da Mozal, todos os planos de contingência Billiton são coordenados a partir de Londres, e existem regras muito estriktas para o seu controle. Os acidentes industriais são hierarquizados segundo a sua gravidade e, para cada um deles é prescrito um tempo e canal de comunicação. Um parafuso partido em Valesul deve ser comunicado ao sub-sub-sub-chefe A em X minutos, uma porca que em Alumar não torce o rabo é transmitida ao sub-subchefe B em menos de Y minutos, um cenário de greve em Hillside não pode levar mais que W minutos a ser transmitido ao sub-chefe C e, teoricamente, a recente descarga de FUMOS em Bayside deverá ter sido comunicada ao chefe D em menos de 30 segundos. Na Mozal, em certos casos, é mesmo possível interromper a partida de golfe do CEO BHP Billiton num relâmpago de micro-segundos.

 

E como que para provar a existência de adequados Planos de Contingência o Herr Direktor Mozal descreveu então um recente ensaio na Mozal: a ocorrência de um ciclone.

 

Curiosamente, o método escolhido para a demonstração só pode ter sido o da redução ao absurdo já que, segundo ele, o ensaio provou que a Mozal não estava preparada para estas frequentes ocorrências tropicais; aparentemente, tudo estaria bem menos uma simplíssima coisa: os técnicos que lá deveriam estar não conseguiriam chegar à Mozal a tempo e horas. Daí que o Centro de Coordenação de Riscos em Londres haja sugerido que tais técnicos passassem a residir, não em Maputo, mas em Beluluane – bem debaixo das atmosferas que influenciam.

 

Talvez assim eles venham a perceber melhor as comunidades locais.

 

josé lopes

 

ps – estas notas baseiam-se me factos reais ocorridos durante a reunião pública de 21 Outubro 2005; neles só meti um bocadito de sal, pimenta e flúor para melhor contar a estória.

 

Flúor - boas notícias

 

A Mozal anunciou ter já iniciado os investimentos tecnológicos que lhe permitirão operar em regime de circuito fechado toda a água que consome para fins industriais. Este é sem dúvida um assinalável passo no sentido da melhoria do ambiente da zona já que não só se diminuirá a pressão sobre os escassos recursos aquíferos mas sobretudo será evitada a descarga de águas industriais no Rio Matola – que era objecto de intensa preocupação popular.

 

Pelo facto apresento os meus cumprimentos à Mozal.

 

E permito-me sugerir que, tão logo a Mozal possa prescindir da actual lagoa de retenção, ela passe a enviar os mussopos que lá aqua-cultiva ao escriba de aluguer que freneticamente atacou as comunidades quando estas se manifestaram contra as descargas no Rio Matola - Fishy Waters dizia ele.

 

PFCs

 

Numa Terra em que os fornos de alumínio são a principal fonte antropogénica de emissão de dois potentes perfluorcarbonos (PFCs), o tetrafluormetano (CF4) e o hexafluoretano (C2F6), julguei oportuno questionar a Mozal sobre o assunto.

 

Muito pa-ta-ti-pa-ta-ta depois, fiquei com a noção de que a Mozal pretendeu passar a ideia de que, chez-elle, são nulas as emissões desses perigosos PFCs. Iguais a ZERO.

 

E porque esta ideia não passa de uma circunstancial boutade, procurarei aprofundar o tópico. Para já seguem 3 bons e oficialíssimos textos (pdf) quanto às origens, impactos e medições sobre PFCs.

 

Entretanto, e ainda sobre este tópico, sugiro xitizap # 18 (Arrotos de Flúor) onde se lembra que, em termos de aquecimento global, estes Gases de Estufa (GHG – greenhouse gas) são muito mais potentes que o dióxido de carbono (CO2) igualmente emitidos pelas alumineiras e têm períodos de vida bastante mais longos. Reporta-se ainda que se estima que o potencial de aquecimento global destes dois PFCs seja 6,500 e 9,200 vezes superior ao do dióxido de carbono CO2, respectivamente. E recorda-se que, normalmente, a produção destes dois perigosos Perfluorcarbonos não é significativa durante as condições normais da fundição de alumínio. Contudo, a emissão de PFCs atinge níveis preocupantes sempre que ocorrem perturbações processuais conhecidas como “efeitos de ânodo”.

 

 

Emissões Flúor: absolutos e relativos

 

 

Por norma, quando a Mozal aborda os seus níveis de emissão de Flúor para a atmosfera, ela limita-se a enfatizar taxas específicas de emissões de Flúor.

 

Contudo, dada a presumível inelasticidade de absorção e reciclagem da atmosfera local, importa avaliar a saturação ambiental face a progressivos volumes de produção de alumínio.

 

Porque adoptar uma taxa máxima de emissões Flúor de 1 kg por tonelada de alumínio anual num regime de 250,000 tpa, não será certamente a mesma coisa que adoptá-la em regimes de 550,000 tpa e sobretudo de 750,000 toneladas de alumínio por ano.

 

Questionada sobre o assunto, a Mozal concordou que, em termos absolutos, existirão certamente limitações no encaixe atmosférico destas emissões de Flúor consoante o volume de produção anual e, graciosamente, concedeu até que a Mozal talvez não pudesse estender-se por mais 20 pacotes de 250,000 tpa (Zeus os oiça). Mais ainda, a Mozal referiu que tal assunto seria objecto de estudos de impacto ambiental relativos a uma eventual Mozal III (750,000 tpa).

 

 

sobre a origem, perigos e medições dos PFCs que a Mozal sugere serem nulas no seu smelter, leia:

 

 

Protocol for Measurement of Tetrafluoromethane (CF4) and Hexafluoroethane (C2F6) Emissions from Primary Aluminum Production

U.S. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY and INTERNATIONAL ALUMINIUM INSTITUTE

 

 

PFC EMISSIONS FROM PRIMARY ALUMINIUM PRODUCTION

This paper was written by Michael J. Gibbs, Vikram Bakshi, Karen Lawson and Diana Pape (ICF Consulting)

and Eric J. Dolin (USEPA)

 

 

 

IPCC/TEAP SPECIAL REPORT: SAFEGUARDING THE OZONE LAYER AND THE GLOBAL CLIMATE SYSTEM:

ISSUES RELATED TO HYDROFLUOROCARBONS AND PERFLUOROCARBONS

SUMMARY FOR POLICYMAKERS

WMO / UNEP

 

 

notas sobre a Reunião Pública Mozal

 

21  outubro 2005