Quo vadis EDM?

 

Na sequência da explosão dos barramentos de um dos principais centros da grande distribuição eléctrica de Maputo (66 kV), em Fevereiro 2013 a capital de Moçambique voltou a ser dizimada por apagões durante quatro dias.

 

Embora os blackouts e as explosões tenham vindo a tornar-se cada vez mais frequentes nos últimos tempos (veja-se os casos da SE5, SE4, SE Nampula, etc), desta vez, para além de enormes prejuízos económicos, há infelizmente que lamentar a morte de um trabalhador da Electricidade de Moçambique (EDM) – e é por aqui que importa começar este comentário.

 

Recorde-se que foi há pouco mais de dois anos que, com a tradicional pompa e circunstância, a EDM convidou o Chefe de Estado para proceder à inauguração de um Centro de Despacho da Rede Sul na Matola – um investimento superior a 5 milhões de dólares que, além de maior eficiência na gestão dos fluxos eléctricos, era suposto visar também a melhoria da segurança humana na operação das redes.

 

Contudo, surpreendentemente, logo em Março 2012 começaram a surgir os primeiros sinais de que algo de anómalo se passava no referido Centro de Despacho: segundo os media, ao dito Centro não haviam chegado os sinais da génese e evolução de uma grossa avaria na SE5, pelo que, na ausência de atempadas manobras de corte e isolamento, um incêndio devastou completamente equipamentos orçados em 6 milhões de dólares nessa moderna SE5 (66/33 kV), o que, por arrasto, causou extensivos apagões em Maputo durante vários dias – por caricato que possa parecer, na altura, os media referiram que a EDM só veio a tomar conhecimento do sinistro através dos alertas dados por residentes da área.

 

Como se nos idos de Março 2012 tanta incúria já não bastasse, na sequência do recentíssimo grande apagão de Fevereiro 2013, os media, com base em fontes qualificadas da EDM que por temor repressivo insistem no anonimato, voltam agora a noticiar que, na passada semana, este mesmo novíssimo Centro de Despacho também não estaria em condições de operar o crucial barramento 66 kV da Central Térmica de Maputo (CTM), pelo que, na sequência de um grave defeito causado por uma descarga atmosférica numa das linhas de grande distribuição, terão sido dadas instruções para a sua operação manual, mesmo sabendo-se já não serem nominais as condições técnicas da instalação CTM (GIS/SF6/66 kV).

 

Entretanto, embora ainda decorram as investigações policiais e peritagens técnicas quanto às causas da explosão que vitimou o técnico da EDM – e espera-se que desta vez a EDM não volte a esconder os seus resultados -, não tenho quaisquer dúvidas em desde já afirmar que, em razão da inexplicavelmente rápida degradação da moderna instalação 66 kV da CTM, em nenhuma circunstância se deveria ter optado por uma operação manual em tensão sobre um defeito desconhecido, mas que se sabia próximo; em particular porque persistiam as adversas condições atmosféricas que haviam induzido a avaria, e também porque não estavam disponíveis quer comandos locais à distância quer adequados equipamentos de protecção; refira-se que, neste, como em tantos outros casos, qualquer operação manual a ser feita directamente em painéis sob suspeita técnica só deverá ser efectuado após o total desligamento na fonte dos respectivos alimentadores. Incidentalmente, recorde-se que, no caso, também não foram aplicadas duas antigas tradições deontológicas desta profissão de alto risco: (i) em circunstâncias de perigo iminente quem dá as ordens é quem deve premir o botão e (ii) um operador nunca deve estar sozinho aquando das manobras.

 

Sem desrespeito pela centralidade deste caso - a vitimização do colega Isaac Vicente António -, permita-se-me no entanto uma rápida incursão pelas prejuízos induzidos por toda esta anomalamente frequente sequência de explosões, incêndios e blackouts na EDM.

 

Como toda a gente terá certamente reparado, a EDM - agora também popularmente conhecida como Explosora De Materiais – é sempre lesta a anunciar os enormes encargos de reposição dos seus equipamentos ($5-milhões na SE5, $6 a 8-milhões na CTM, etc); paradoxalmente, e não obstante o determinado por várias Leis, a EDM recusa-se sistematicamente a indemnizar os consumidores cujos equipamentos são destruídos pela má qualidade do seu fornecimento eléctrico (oscilações, voltagens não-nominais, extemporâneos cortes e religacões, etc.), ou cujos produtos e/ou factores de produção perecem devido aos extensos mas não-anunciados apagões.

 

Trata-se de uma impunidade que urge colmatar, em particular porque, dado o longo tempo requerido para a normalização da fiabilidade dos sistemas de Maputo (mais de 12 meses), 2013 será um ano electricamente muito difícil devido ao débil estado das redes de grande distribuição 66 kV; neste mesmo contexto, e apesar de, estranhamente, a EDM continuar a não dispor das mais básicas ferramentas de planeamento eléctrico (ou pelo menos a não as divulgar), eu aqui generosamente lhe forneço uma estimativa que me levou algum tempo a calcular: exceptuando a Mozal - que é um enclave Eskom -, e os prejuízos causados aos equipamentos dos consumidores, na actual estrutura sócio-económica de Maputo/Matola o Custo Diário da Energia Não-Servida (ou de perda de carga) atinge os 47 milhões de meticais ($ 1.6-milhões de dólares).

 

Há pois métodos e contas que urge refazer.

 

josé lopes

 

fevereiro 15, 2013

 

Quo vadis EDM?

Electrificar duas vezes?

Aberração Cataxa

Text Box: Base numérica por Leo Reynolds
Text Box: baú xitizap (mar 2003/jun 2010)

 

posfácios:

 

 

A - O erro da Eskom (out 2010)

 

 

B - Mozal - fuma$$as em bypass (mar 2011)

                          … ainda em trabalhos

 

 

C -  Electrões aos ZigZags (abril 2011)

 

 

D- Mistérios na barragem Mphanda Nkuwa (junho 2011)

 

 

E -  Tete, Moatize, Cateme e a Vale  (jan 2012)

 

 

F - o Bom, o Mau e o Feio (mar 2012)

 

 

Titanopólio (junho 2012)

 

 

Energy and Mining Corridors 2020 ( jun 2012)