xitizap # 21

outubro 2005

 

Um comentário de 2005 (xitizap # 21)

 

 

EDM: electrificar duas vezes ?

 

 

conta a estatística EDM que, ao longo dos muitos anos que a empresa já tem, raros foram os casos em que importantes equipamentos hajam sido destruídos por falta de manutenção, incorrecta operação, e/ou erros de design.

 

Contudo, e sem que nada o possa justificar, esta boa performance tem vindo a inverter-se. E de um modo paradoxal porque, à medida que parece crescer o staff da EDM (Electricidade de Moçambique), sobe vertiginosamente o nível de destruição de equipamentos - sobretudo nos últimos 3 anos.

 

em minha opinião, esta perigosa derrapagem técnica deve-se, na maioria das vezes, a negligências a dois níveis: (i) operação e manutenção de sistemas e (ii) design de transmissão e distribuição eléctrica.

 

E o ano 2005 é apenas o mais recente capítulo desta horror story: uma estória de incêndios e explosões de equipamentos que, frequentemente, não haviam sequer atingido um quarto da sua vida útil.

 

Repare-se no filme dos últimos meses por exemplo:

 

mega-incêndios que destroem centrais (no pico do turismo em Pemba, Dezembro 2004), comutadores de tensão que explodem deixando Cabo Delgado e Nampula em total blackout durante mais de um dia ( tap-changer do trafo 220/110 kV @ Nampula; um problema que a EDM julga ter temporariamente mitigado via canibalização em Mocuba), transformadores 110/33 kV (linha Infulene-Lindela) que insistem em desintegrar-se quando surfados pelo novo electromagnetismo EDM, novíssimo switchgear que derrete porque directamente ligado à terra logo nas primeiras manobras, fragmentações de TTs e TIs acabadinhos de instalar, e as recentíssimas explosões de vários transformadores 66/33 kV (de 8, 10 e 20 MVA).

uff, uff, uff.

 

Mas, e embora ainda haja mais, muito mais, a série de destruições é tão vasta que seria patético tentar completá-la. E quase que nem vale a pena aliás - sobretudo porque a EDM tudo faz para a esconder.

 

Lamentavelmente, e sempre que questionada sobre o assunto, a EDM recorre a cândidas, mas inaceitáveis, escusas; do tipo: isto acontece; a malta não liga a estas coisas; o que é que se há-de fazer; a coisa não é tão grave assim, etc, etc.

 

Em certos casos, a desfaçatez raia mesmo o absurdo; como no caso da mais recente desintegração de um transformador 20 MVA (66/33 kV). Perante a TV, e sem denotar qualquer preocupação pelas causas do desastre, a EDM esclarecia: “Não há problemas. Por acaso ainda temos um outro transformador por aí; e com o dobro da potência, o que é muito melhor.”

 

Embora alguns destes gravíssimos problemas derivem de uma preocupante falta de comando técnico por parte da administração EDM, importa notar que outra boa parte deles deriva de um mau design. Como me parece ser o caso da Linha 110 kV Infulene – Lindela (Inhambane).

 

E, pelo menos neste caso, a EDM não pode queixar-se de falta de atempado aviso já que, eu próprio, e por mera solidariedade electrotécnica, me dignei a alertar o Conselho de Administração da empresa quanto aos erros que, em minha opinião, atravessavam o design dessas instalações.

 

Na verdade, meses antes da inauguração da linha 110 kV Infulene-Lindela (Inhambane), uma sumária análise back-of-the-envelope permitia-me avisar a EDM, formalmente e via fax, quanto à sombria qualidade de onda que eu antecipava:

 

 “ o regime de funcionamento da linha 110 kV Infulene-Lindela será altamente instável, de má qualidade e sobretudo perigoso – para pessoas e equipamentos. … E de duas uma: ou a minha electrotecnia está errada, ou então será a vossa.” (excerpto de fax dirigido à EDM numa altura em que os testes estavam longe de começar).

 

Um aviso que, para além desta Linha Sul, se estendia também às ligações 110 kV para Pemba e Lichinga, a serem feitas dois anos depois—e que ainda estão por concluir.

 

Infelizmente, meu dito … meu feito.

Menos de uma hora após o então Primeiro-Ministro ter inaugurado a substação 110/33 kV em Lindela (Inhambane), começava o deboche dos cortes, oscilações de tensão e destruição de equipamentos. Um mega-ziguezague electromagnético cuja arreliadora duração vai causando graves prejuízos aos consumidores – e à EDM, já que a obriga à substituição de um sem-número de equipamentos destruídos.

 

Porém, entendamo-nos:

a questão não é que estas novas ligações não possam ser realizadas; pelo contrário, a electrificação do país impõe a sua realização. A questão é simplesmente outra, e tão velha como o electromagnetismo: elas têm que ser feitas … mas bem - para além de terem que ser bem operadas e mantidas.

 

Sob risco de Moçambique ter que ser electrificado duas vezes.

 

 

josé lopes

 

outubro 2005

 

num teatro de sombras

 

Text Box: xitizap # 21
outubro 2005

Quo vadis EDM?

Electrificar duas vezes?

Aberração Cataxa