No milénio III, a estação de blackouts abriu em New York ia Agosto a 14 de 2003
O baile inaugural foi em grande e, à luz de velas, serviram-se exuberantes cocktails de hipóteses.
Quarenta horas depois, ao café já se bebia consenso em Gotham City, e o jet set concordava em que, por mais exótica que possa ter sido a causa imediata, o blackout só poderia ter atingido aquela dimensão por causa dos sub-standards que a liberalização havia trazido ao mercado eléctrico.
Sub standards muito idênticos aos do anterior caso Califórnia/Enron. E sub standards técnicos que vão desde a caducidade dos mecanismos de protecção, controle e acção sobre sistemas, até à preguiça em sincronizar os relógios de todos os parceiros - como evidencia a sequência de acontecimentos publicada pelo NERC a 11 de Setembro 2003 (www.nerc.com).
E há datas que podem ser fatais.
Entretanto, e enquanto se espera pelas conclusões da task force blackout US/CANADA, a 24 de Setembro, outros cinco milhões de pessoas ficaram sem electricidade durante mais de 4 horas - e mesmo 8 em alguns casos. No caso, o blackout aconteceu na Escandinávia - o paraíso da ultra-fiabilidade na Terra.
Tudo se passou pouco depois do meio-dia, quando uma central nuclear em Oskarhamn (Suécia) foi obrigada a desligar-se do sistema, aparentemente na sequência de uma avaria numa linha de transmissão.
Mikael Engvall, porta-voz da Svenska Kraftnet (operador de transmissão sueco), revelou que o encerramento de Oskarhamn despoletou o disparo automático de duas outras centrais nucleares devido a dificuldades de transmissão. Por seu lado, a Elkraft (operador de rede dinamarquês) admitia que a súbita falta desta potência havia feito descer a tensão na rede interligada a tal ponto que as centrais eléctricas na Dinamarca caíram como dominós.
A mim, pessoalmente, este blackout nórdico interessava-me muito mais que o de Londres que entetanto havia paralisado 400,000 mil londrinos durante mais de 45 minutos à hora de ponta de 28 de Agosto.
Não só porque a 10 de Setembro o operador eléctrico National Grid já havia identificado a WMD (Arma de Destruição Massiva) - um fusível de 1 Ampere - mas também porque, em plena presidência europeia, a 28 de Setembro a Itália de Berlusconni assumia, e com relativa facilidade, a liderança mundial em blackouts. Desta vez, por causa de uma árvore caída nos Alpes suíços, 57 milhões de consumidores ficaram desprovidos de electricidade durante mais de 10 horas.
E aqui sou obrigado a confessar-vos o porquê do meu particular interesse por este blackout na Escandinávia.
É que, situadas no anel de fogo de algumas latitudes Norte - tal como as do blackout de 14 Agosto nos USA/Canada - a Dinamarca e Suécia podem ter sido as novas vítimas de tempestades magnéticas - um caso de Sol como serial killer.
josé lopes
outubro 2003
ps - sobre este assunto, leia
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SASOL e ESKOM negoceiam gás natural de Moçambique
Neste momento, a Sasol e Eskom estão sentadas à mesa a negociar o gás de Temane.
Uma dispondo de gás natural, e a outra pressionada por falta de ponta, estas duas empresas estatais sul-africanas deverão, dentro de dias, chegar a um acordo comercial para a utilização do gás moçambicano numa nova central eléctrica da Eskom.
Recorde-se que a Sasol está em vias de concluir um investimento de US 1.2 bilião na construção de um pipeline Temane - Secunda. |
África do Sul - blackouts no horizonte?
Desde há tempos que a Eskom não regista grandes blackouts e, de algum modo, a boa performance da empresa terá derivado das lições de 1975 ( três apagões) e 1977 (mais dois).
Recorde-se que o primeiro grande blackout na rede Eskom ocorreu numa madrugada de Outubro 1975, altura em que mais de 20% do fornecimento do país foi interrompido durante 3 horas. Três semanas mais tarde, um outro corte viria a interromper uma significativa parte da rede Eskom durante 2 horas.
Nesse mesmo ano de 1975, às 19:01 de 4 de Dezembro, uma nova avaria provocava uma cascata de disparos de disjuntores que, 26 minutos mais tarde, resultaria no colapso de 45% do sistema de geração Eskom. Treze meses depois, a rede Eskom viria a registar dois outros grandes blackouts.
Como é óbvio, a empresa foi obrigada a olhar pró umbigo e, na sequência de investigações internas, a Eskom viria a alterar radicalmente o sistema de controle da sua rede.
Ao mesmo tempo, a Eskom reconhecia que era crucial aumentar a capacidade do seu parque de geração pelo que deu inicio a um vasto programa de construção de centrais eléctricas em Matla, Duvha, Tutuka, Lethabo, Matimba e Majuba.
Note-se que, em 1975, a Eskom dispunha de aproximadamente 9 000 MW (base load) para satisfazer uma carga-base na ordem de 8,000 MW (margem de 13%). Hoje, 2003, a margem de reserva de carga base desceu para menos de 5%, e em termos de potência de ponta a situação é muito mais critica.
Para muitos analistas há razões augurando alguns mega-blackouts num futuro próximo. Em particular porque, embora a Eskom disponha hoje de sistemas de controle melhores que nunca, o mero desligar de uma única grande central - devido a fogo, inundações ou qualquer outra catástrofe natural - pode implicar significativas deslastragens na rede.
A menos que a Eskom passe a dispor - e com urgência - de novas dotações de potência de ponta (a gás natural, p.e.). Nomeadamente porque, numa situação em que o crescimento da demanda não tem sido acompanhado no lado da oferta (antes pelo contrário) a Eskom parece obcecada em vender as suas magras reservas de geração aos operadores internacionais de smelters - nomeadamente de alumínio.
Estes desequilíbrios no mercado eléctrico sul-africano poderão agravar-se caso não se cumpram as enormes esperanças que o governo colocou no sector privado. Um sector que se tem retraído na concorrência com uma Eskom esmagadoramente financiada pelo tesouro público dos impostos.
José lopes
outubro 2003
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