Blackout em New York

 

Um mês depois do maior apagão na história eléctrica do continente norte-americano, ainda não são conhecidas as conclusões da comissão de inquérito nomeada pelos governos dos USA e Canadá.

 

E, quando há dias vários congressistas americanos se lamentavam pelo facto de administração Bush continuar às escuras quanto às causas do blackout, o secretário americano para a Energia – Spencer Abraham – limitou-se a dizer: “Determinar as causas deste apagão é uma tarefa demasiado complexa para que, nesta altura, alguém saiba todas as respostas”.

 

O massivo blackout de 14 de Agosto 2003 afectou mais de 10 milhões de pessoas no sul de Ontário, Canadá (cerca de 1/3 da população do Canadá) e 40 milhões de consumidores em oito estados do nordeste dos USA (cerca de 1/7 da população americana).

 

Segundo refere um porta-voz do Midwest Independent Transmission System Operator, que supervisiona o fluxo eléctrico de 15 estados, o sistema começou a registar estranhas oscilações de voltagem por volta do meio-dia de Agosto 14.

 

E quando às 4:10:48 pm (EDT) uma súbita aceleração na frequência eléctrica indiciava uma perigosa instabilidade na rede, mais de 100 centrais eléctricas - das quais 22 nucleares - decidiram sair do paralelo e desligar-se do sistema como medida de precaução.

Segundos depois, entre as 4:12 e 4:15 pm (EDT), a tensão eléctrica caía para metade do seu nível normal, e o sistema Midwest entrava em absoluto colapso.

 

Durante mais de 3 dias, grandes áreas do nordeste americano e sul-leste do Canadá passaram então a estar privadas de electricidade e, na maior parte das cidades, os sistemas de geração backup não se mostraram à altura. Daí que grande parte dos serviço essenciais viria a sofrer graves perturbações. Tal como no caso de várias cidades onde os sistemas de distribuição de água perderam pressão o que forçou racionamentos e a excepcionais medidas nos sistemas de saneamento urbano.

Entretanto, a rede telefónica fixa via-se a braços com dramáticas sobrecargas devido à pressão de um público que queria comunicar – e salvar-se. E de pouco lhes valiam os telefones celulares cujas redes colapsaram logo que se esgotaram as reservas de backup.

 

Uma hora após o blackout, a administração americana encerrava aeroportos e sistemas ferroviários, e o pânico invadia os mercados financeiros.

 

Mais precavido em geradores de reserva, o entertainment mediático resistia à generalizada tormenta e as principais estações de rádio e televisão continuaram a emitir.  O que permitiu que, apenas 20 minutos após o blackout, a administração americana viesse a público rejeitar a hipótese de sabotagens no sistema eléctrico – liminarmente.

 

Finalmente, só 4 dias depois do blackout era reposta a normalidade em todo o sistema eléctrico.

As primeiras avaliações económicas sugerem gigantescas perdas e, só em New York estima-se que elas tenham atingido $ 1.1 bilião de dólares – aproximadamente 36 milhões $ USD por hora. Do lado dos ganhos, há apenas a registar a nova maturidade social de New York – nascida no 11 Setembro 2001.

 

Note-se que, há 2 anos, o NERC (North American Electric Reliability Council) já havia alertado as autoridades quanto aos desequilíbrios que o sistema eléctrico Midwest indiciava – em particular quanto à debilidade dos sistemas de transmissão que não acompanhavam a evolução dos novos padrões de oferta e demanda eléctrica.

 

Com investimentos inferiores a metade dos $ 56 biliões USD que seriam necessários para aumentar a fiabilidade e resiliencia dos sistemas de transmissão, Bill Richardson (ex-Secretário de Energia na administração Clinton) tem toda a razão quando afirma: “Os USA são uma superpotência com uma rede eléctrica do terceiro mundo”. O que não deixa de ser irónico num país que investiu dezenas de biliões nas auto-estradas da informação da internet – e negligenciou a auto-estrada dos electrões.

 

Estupefacta face a tão grande fragilidade infra-estrutural, momentos depois do blackout a administração Bush precipitava-se a apontar culpas para o lado canadiano. Mas, e à semelhança de outros casos de maciça falta de evidencias, o governo americano foi obrigado a retractar-se, aceitando integrar uma comissão de inquérito conjunto USA / Canada que, para além da investigação das causas desta catástrofe, possa igualmente avaliar porque razão não foram postas em prática as várias medidas de prevenção estipuladas aquando do blackout de 1965.

 

Espera-se ainda que esta joint federal task force liderada por Herb Dhaliwal (Ministro canadiano dos Recursos Naturais) e Spencer Abraham (Secretário para a Energia dos USA) aborde ainda um outro conjunto de questões. Nomeadamente a qualidade na manutenção da infra-estrutura eléctrica, as falhas nos chamados cabos-inteligentes, as deficiências dos mecanismos de shunting e re-direccionamento, a fiabilidade das ligações AC versus DC, e o mérito do planeamento eléctrico centralizado versus a liberalização do mercado.

 

À data de fecho do xitizap # 6, não eram ainda conhecidas as conclusões desta comissão de inquérito.

 

 

josé lopes

 

Setembro 10, 2003

 

Entretanto, duas horas depois do blackout as especulações começaram a emergir. Tal como a inevitável troca de acusações entre parceiros - países, estados federais, empresas de electricidade.

 

A escuridão não trazia luz à discussão, e a falta de alguns sys-logs não ajudava a entender a electrodinâmica do blackout - uma catástrofe que se instalou em poucos segundos. O tempo de alguns comprimentos de onda.

 

contudo, a nível para-técnico, a 15 de Agosto o Financial Times já sintetizava algumas das razões de fundo. Referindo que, para além de problemas de infra-estrutura eléctrica, a catástrofe reflectia “uma combinação de falhas políticas, reguladoras e tecnológicas ....  e o blackout também expôs a falta de um sistema regulador formal quanto ao modo como a rede é operada.”

 

O FT prosseguia referindo que o NERC (north american electric reliability council – usa/canada) considerava operar por “reciprocidade, pressão entre-iguais e o interesse próprio por mútua parte de todos os envolvidos.“

 

Mas, logo a 15 de Agosto, Michael Gent – presidente e chief executive da NERC – já admitia que o relaxado estatuto deste órgão poderia ter perdido a sua adequabilidade. E dizia: “ou as regras que temos são inadequadas e precisam de ser mudadas, ou alguém não as seguiu.“

 

E o FT terminava referindo-se ao gap tecnológico da rede Midwest. Uma infra-estrutura onde, segundo Gent, já há muito havia sido detectada a urgência de “novas ferramentas digitais para gerir a rede.”

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a especulação xitizap

 

armado em sherlock do alto-maé, xitizap sugere que o blackout de NY poderá ter sido causado pelo SOL …

 

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