lavar o quê e aonde ?
notas sobre o Flúor na MOZAL
Obtida a partir da bauxite, a alumina (óxido de alumínio Al2 O3) é a principal matéria prima na produção de alumínio via electrólise. Contudo, dado que o elevado ponto de fusão da alumina (2040 °C) não permite um processo de electrólise económico, os industriais passaram a dissolvê-la em criolita (Na2 Al F3) e a adicionar fluoreto de alumínio (Al F3) por forma a reduzir o ponto de fusão da mistura até cerca de 950 °C. Este expediente industrial dá lugar a numerosos gases nocivos e enormes quantidades de dejectos perigosos, pelo que, a transformação da alumina em alumínio é, inquestionavelmente, a fase mais poluente deste processo. Caso não houvesse recurso a aditivos - e se a reacção fosse completa –, o processo daria origem apenas à emissão de CO2 (um gás de estufa). Infelizmente não é esse o caso e, para além de monóxido de carbono (CO), do processo resultam significativas quantidades de PAHs (polycyclic aromatic hydrocarbons) - incluindo carcinógenos como o benzo[a]pyrene (B[a]P sobretudo oriundos dos ânodos de carvão gastos e do SPL (Spent Pot Lining) que será depositado em Mavoco. O processo electrolítico também produz poeiras, partícula suspensas e dióxido de enxofre (SO2) que está presente no carvão de coque usado na preparação dos ânodos. O SO2 , um dos grandes poluentes atmosféricos causadores de chuvas e nevoeiros ácidos, é responsável por generalizadas irritações respiratórias, e é devastador para a vegetação. Muitos deste agentes de poluição – especialmente flúor e PAHs – estão igualmente presentes nas águas descarregadas pelas fundições de alumínio - nos rios e mares. Técnicas recentes permitiram reduzir a contaminação das águas efluentes, e há até fundições que atingiram o nível zero destas descargas. Infelizmente, e apesar do seu programa ZERO HARM, este não é o caso da Mozal. Daí que seja legitimo perguntar por não segue a Mozal a recomendação do seu consultor para o caso de Coega (RSA – Port Elizabeth) no sentido de, pelo menos na zona dos portos e estuários adjacentes, se proceder à sistemática dragagem dos sedimentos à superfície. Recorde-se agora que o Flúor é um gás extremamente tóxico e reactivo, e que causa a desintegração de quase todos os outros elementos excepto oxigénio e azoto. Note-se ainda que, segundo as estatísticas, as fundições de alumínio são a principal fonte de emissão de gases de flúor para a atmosfera. SPL de Mavoco Regresse-se entretanto ao SPL (Spent Pot Lining). Como se sabe, as paredes internas das celas de fundição MOZAL são forradas de tijolo, principalmente composto por antracite e outros materiais refractários (pot wash), num conjunto que constitui o cátodo da electrólise e, com o tempo, estes forros internos envelhecem e têm que ser substituídos. Mas, apesar de constituídos essencialmente por carvão, estes dejectos estão contaminados com criolita e fluoretos de alumínio – para além de cianeto que é um by-product da electrólise. Tais dejectos – o SPL (Spent Pot Lining) - são por isso considerados como produtos perigosos. E não apenas por conterem múltiplas substâncias tóxicas, mas também porque, em contacto com água, ácidos ou alcalóides, ou mesmo a elevadas temperaturas, estes dejectos levam à produção de gases altamente tóxicos e explosivos – tais como fluoretos e cianetos de hidrogénio. E é por estas e por outras que o tratamento e armazenagem do SPL exige cuidados extremos, pouco ou nada compatíveis com a alienação de responsabilidades e deveres da Mozal.
josé lopes
maputo - julho 2003 |
agosto 2003 |
escalas rios lixeiras SPL |
A Mozal admite que a Lixeira de Mavoco "não fica longe do Rio Movene" (ver actas PI&A).
Ora, se não fica longe, é porque pode ficar perto - pelo menos em termos de bacia hidrográfica.
E basta consultar um mapa para nos apercebermos da frágil rede de rios, riachos e lagoas da zona onde está ser instalada a lixeira SPL da Mozal.
Uma rede hidrográfica frágil … mas rica. Uma rede imprevisível se nos lembramos das ciclicas e tropicais inundações - altura em tudo as águas levam.
Daí que seja muito dificil estancar uma contaminação SPL (p.e.) que ocorra em qualquer braço desta emaranhada baía.
E por isso é preocupante que a Mozal e o MICOA hajam seleccionado Mavoco para instalar a perigosa lixeira SPL.
E que seja permitido à Mozal transferir responsabilidades para o MICOA, mesmo que a iniciativa haja partido deste ministério.
Particularmente se reparamos que parte da água que Maputo bebe vem do Rio Movene. Um rio que aflui ao Umbeluzi na zona de Boane - ou seja, a montante da estação de captação de águas para Maputo.
Tudo indica que à Mozal já não lhe chega poluír o Rio Matola.
Agora, com a lixeira de Mavoco, a Mozal passa a pôr em risco outra parte fundamental desta bacia hidrográfica: o Rio Movene. |
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