Confesso-te Ilaria, que tudo isto me eriçava os pêlos, e o que sobrava de medula.
Porque se o depósito Greenpeace era facto ou ficção radioactiva, a questão pouco me interessava. A mim, o que desde logo me inquietava era o governamentalismo da hipótese: uma nova importação de merda, como se a nossa já não bastasse.
E, dessas fossas, só mesmo um perfume de amor me poderia resgatar.
Foi quando por acaso te conheci, Ilaria.
E, por frívolo que possa ter sido o pretexto, o que é certo é que a paixão se tornou do tamanho do mundo - uma paixão que crescia, não com rosas e em jardins, mas nas porcas rotas dos lixos.
Na verdade, confesso que tudo se passou enquanto observava a nuclear ESKOM - mais propriamente as rotas do radioactivo reactor PBMR: as rotas do urânio enriquecido importado da Rússia via Durban, pela N1 e N4 até Pelindaba e Koeberg, além de todas as outras que eles quisessem imaginar.
Aterradora, a possibilidade de manhosas proliferações surgia-me - incluindo as usuais golpadas de baldeamento e hijacks de auto-estradas.
E foi nas webpages de um atlas da proliferação radioactive que subitamente tu me surgiste - como uma mártir, não diria da física, mas da higiene da Terra.
Num martírio que de pouco terá servido aos traficantes porque, neste milénio demencialmente intoxicado, eu sei que tu sabes que a defesa da Terra continua - apesar dos traficantes, apesar das pestes de miséria, e, sobretudo, apesar da sanidade dos Saddamocs e baby-Bushs de serviço.
Confesso que não sei se aí em cima tu e os outros querem notícias destas misérias mas, neste caso não resisto, porque ainda há meses a gang dos tóxicos instruía o babyBush para que rasgasse mais tratados - Kyoto, Basel ... what's next ?
Falo-vos da recente moratória imposta pelo babyBush e um congresso USA.
Uma moratória que não só anula as últimas determinações Clinton, como ainda se permite financiar um projecto-piloto sui generic: afundar navios carregados de perigosos asbestos e PCBs (bifenilos policloridratados). Barquitos como alguns que navegam as costas deste nosso Índico - uma costa à mercê de piratas despejando tóxicos no mar e em terra e, onde só ontem, havia alertas contra 50 navios que por aí andam à espreita
Com modos bizarros, e num daqueles esgares de brilhantismo a que já nos habituou, na ressaca de uma queda de poltrona baby-Bush passava agora a arquitectar novas ilhas e reefs artificiais nos oceanos da banheira global apostando no afundamento de mais de 300 velhos navios por eles contaminados no Índico e Pacífico dos países pobres.
Recorde-se que segundo a BAN (Basel Action Network)
foi por pressão dos países do Sul, e de África em particular, que a Convenção de Basileia (Basel) introduziu uma emenda ao tratado de 1989 proibindo todas as exportações de lixos perigosos dos países da OCDE para outros - sobretudo para países pobres.
A emenda foi adoptada em 1998 e a sua ratificação prossegue pelos vários países. Para além de asbestos e PCBs, a lista de produtos proibidos inclui o arsénico (altamente tóxico e cancerígeno), o cádmio (que desbasta pulmões e outros órgãos), e o mercúrio que arruina o cérebro, rins e o desenvolvimento fetal. A lista inclui igualmente os lixos hospitalares como seringas, embalagens médicas e outros materiais que possam infectar e espalhar germes patogénicos e outros micro-organismos perigosos. Mais recentemente o banimento Basel passou a dedicar redobrada atenção a um outro preocupante tipo de resíduos - lixos como velhos computadores e celulares
Porra !
O mundo está de facto perigoso, e por isso convém estar de olho-vivo
E é por tudo isto, Ilaria, que te escrevo a minha paixão. E se a grito alto, é para que todos a saibam.
hasta siempre Ilaria josé lopes maputo, 20 Março 2003 |
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links públicos utilizados em xitizap # 1:
Camera dei Deputati (Itália)
site dedicado a Ilaria Alpi
semanário Famiglia Cristiana
El Diario (Morón)
El pais (Espanha)
Canal 13 (Telenoche Investiga)
Mail & Guardian
Narco Mafia monitor
Centro Estudos Residuos
ENEA (Itália)
BAN (Basel Action Network)
Greenpeace
e edições impressas por :
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Nota xitizap (março 2010):
A 24 de Fevereiro de 2005, dois anos após a publicação de xitizap # 1, o website dedicado a Ilaria Alpi teve a gentileza de publicá-lo em tradução para italiano.
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nota xitizap (março 2010):
xitizap # 1 foi agora re-editado devido às incompatibilidades de visualização da versão original (março 2003) com as novas versões dos web browsers.
Todos os textos permanecem conforme a edição original, à excepção de pequenas discordâncias sintácticas e de alguns erros ortográficos. |