o Bom, o Mau e o Feio
cowboyadas electrizantes em Moçambique 2012 |
o Bom
Há boas notícias sobre a electricidade moçambicana mas, curiosamente, nenhuma delas provém da Electricidade de Moçambique (EDM).
Uma das boas novas chegou-me em Fevereiro 2012 através do Ministério da Energia (DNEE), e dizia respeito à construção de uma nova linha de transmissão eléctrica que reforçará a actual ligação da HCB às zonas centro e norte de Moçambique.
Atendendo às necessidades eléctricas do Moçambique onde realmente se verificará o maior crescimento agro-mineiro-industrial até 2025, este é um reforço mais que oportuno, e que só não é perfeito porque idiossincrasias políticas e inflexibilidades quanto a preços de exportação impediram que a nova linha seguisse a sua rota mais lógica: uma interconexão que, atravessando o Malawi, também o acomodasse electricamente; por outro lado, trata-se de um reforço obviamente urgente se se atender à patente falta de fiabilidade do actual sistema Centro-Norte EDM (220kV).
Embora se trate de um passo firme na direcção certa, este novo sistema de transmissão necessita no entanto de ser acompanhado imediatamente por algumas simples gerações eléctricas distribuídas: 1 MW de energia solar em Lichinga e Pemba e 3 MW em Nacala/Nampula, enquanto se apura a estratégia para a utilização dos gigantescos volumes de gás natural da bacia do Rovuma a partir de 2018.
Entretanto, e apesar do mediatismo intenso que normalmente imprime aos seus projectos de transmissão (recordem-se os sistemáticos shows CESUL, por exemplo), a Electricidade de Moçambique (EDM) permanece muda e queda sobre este anúncio do seu ministério de tutela; na verdade, após o colapso da travessia do Malawi em 2010, a EDM nunca mais se referiu ao modo como pensa enfrentar os enormes desafios que há muito se lhe colocam nas zonas centro e norte do país.
Da HCB (Hidroeléctrica de Cahora Bassa) também me chegaram boas notícias em 2012.
A primeira: em 2011-12 houve mais uma estação de chuvas bem gerida hidrologicamente pela HCB; e como já cá vão quatro estações de tranquilidade fluvial após as campanhas de flagelação popular de 2006/07 e 2007/08, tudo indica que a prudência passou a imperar sobre as ansiedades economicistas de então.
E é no quadro deste padrão hidroeléctrico que se molda o corpo da segunda boa notícia HCB.
Sem folclores barragistas, a HCB vai construindo paulatinamente a sua Central Norte (CBN); os estudos estão avançados, os financiamentos para que se inicie a obra em 2014/15 são fáceis de obter, em particular para quem tem vindo a sobre-cumprir o reembolso dos seus empréstimos (CB sul), e a Eskom já não resiste a um PPA 20201 para estes deliciosos 1250 MW adicionais (3x415 MW) sobretudo porque, com investimentos muito baixos, a HCB facilmente escoará estes electrões através do seu sistema HVDC (Songo-Apolo).
Para Moçambique, a Central Norte HCB significa um conforto acrescido quanto à satisfação da sua demanda eléctrica natural a partir de uma moderna central única que, com 3320 MW (8x415 MW) instalados, facilmente percorrerá os diagramas de carga que se avizinham em Moçambique.
Inevitavelmente, a Central Norte de Cahora Bassa (CBN) exigirá cotas de exploração da albufeira mais elevadas, e isto sobe consideravelmente o nível de tensão hidrológica a adoptar num Zambeze cada vez mais caprichoso; todavia, estes futuros riscos hidrológicos podem ser efectivamente mitigados por um padrão de gestão que continue a seguir as linhas de prudência da actual HCB.
josé lopes
março 2012
1 - PPA - Power Purchase Agreement - Acordo de Compra de Electicidade |
xitizap - posfácio F
março 2012
em construção |
xitizap - posfácio F |
o Bom |
o Mau |
… e o Feio |
baú xitizap (mar 2003/jun 2010) |
posfácios:
A - O erro da Eskom (out 2010)
B - Mozal - fuma$$as em bypass (mar 2011) … ainda em trabalhos
C - Electrões aos ZigZags (abril 2011)
D- Mistérios na barragem Mphanda Nkuwa (junho 2011)
E - Tete, Moatize, Cateme e a Vale (jan 2012)
F - o Bom, o Mau e o Feio (mar 2012)
Titanopólio (junho 2012)
Energy and Mining Corridors 2020 ( jun 2012)
G - Quo vadis EDM? (fev 2013)
Corredores mineiro-energéticos 2020
Impactos marítimos do Afro-Índico no Canal de Moçambique
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