1 - Na África do Sul, o IRP (Integrated Resource Plan) é o cronograma oficial que, tomando em consideração múltiplos critérios, coordena os programas de expansão de geração eléctrica e as intervenções sobre a intensidade eléctrica da demanda. O IRP 2010 (a iteração há dias promulgada sob o título Policy-Adjusted IRP) reflecte a adopção de alguns ajustes políticos introduzidos ao RBS (Revised Balanced Scenario) adoptado no draft de Outubro 2010. A próxima iteração IRP poderá ocorrer dentro de 2 anos.

3 - SAPP – Southern Africa Power Pool

 

2 - A versão final IRP 2010-30 apoia-se numa versão politicamente-ajustada do Plano Eléctrico sul-africano (Policy-Adjusted IRP) que, para além de inputs a nível de carbo-emissões, incertezas tecnológicas, usos de água, localização e criação de trabalhos, também balanceia a segurança eléctrica e as opções hidro-regionais

 

Riscos eléctricos e diplomacia SADC

 

Aprovado que está o novo plano eléctrico sul-africano (IRP 2010-301), há duas observações que me ocorrem.

 

A primeira diz respeito à diplomacia que o governo sul-africano entendeu imprimir à versão final do IRP quando, numa miríade de cunhos 2, o ajustou politicamente ao nível das opções hidroeléctricas regionais Moçambique/Zâmbia por exemplo - e não é difícil reconhecer que são substanciais os esforços políticos exercitados nesta iteração (Policy-Adjusted IRP) no sentido de se dar uma mãozinha a esses projectos (Mphanda Nkuwa et al).

 

Repare-se por exemplo nestas duas espantosas facilitações diplomaticamente concedidas com o fito de se melhorar as regionais pontuações:

 

. primeiro, o IRP não se esqueceu de lhes aumentar o crédito através de uma bonificação tecnicamente induzida pela antecipação da entrada em serviço de pacotes de energias renováveis (solar, vento) e, feliz ou infelizmente, da sempre resiliente frota eléctrica do carvão Karoo.

 

. segundo, o IRP passou a contrabalancear o conjunto de riscos hidroregionais através de uma generosa internalização das alternativas sul-africanas que, por imperativo técnico, têm que permanecer despacháveis no caso de perda destas hipotéticas capacidades SADC.

 

No entretanto, e embora admita que estas opções Moz/Zâmbia deverão requerer morosas negociações transfronteiriças (incluindo com o Zimbabwe), o novo IRP continua a ser muito diplomático e, simpaticamente, não fecha portas a ninguém em próximas iterações.

 

Melhor do que isto, é um bocado difícil!

 

Mas, curiosamente, nem assim a coisa parece ter surtido qualquer efeito na grelha de extemporaneidades pelo que, barragens novas, só mesmo por um canudo (anos para entrada em serviço = 9, p.e).

 

Basta deduzi-lo da altíssima parada que, mesmo em versão politicamente-ajustada, ainda continua a formatar o espectro de riscos sul-africanos quanto a importações hidroeléctricas de Moçambique e Zâmbia:

 

(1) para além de conjecturar “severos e duradouros períodos de seca” no rio Zambeze,

 

(2) o governo sul-africano considera que um outro dos seus principais riscos se prende com os modelos de desenvoltura dos promotores de novas centrais hidroeléctricas e redes de transmissão.

 

Note-se ainda que, nos meandros destas teias, continua a existir um buraco que desde há muito também a mim me enfada:

 

é que, apesar de incontáveis estudos milionários e décadas de reuniões regionais, o IRP ainda insiste em insistir na existência de significativos riscos ao nível dos valores enunciados para as actuais promoções de exportação hidroeléctrica Moz/Zam - e admite até que os investimentos em novas centrais e redes de transmissão continuam a ser estimados apenas com base num anterior plano SAPP 3, e não em qualquer “firme cometimento” por parte dos promotores em palco.

 

Entretanto importa recordar que, por alegadas razões de escassez de informação e tempo, o IRP não conseguiu, como idealmente pretendia, monetizar todos os seus nove riscos, e nem sequer chegou à caracterização probabilística como melhor aproximação seguinte – nesta iteração, o IRP viu-se metodologicamente compelido a adoptar julgamentos subjectivos (se bem que especializados) na derivação dos seus diversos factores de risco.

 

Mas onde eu acho que não pode nem deve haver mais subjectividade é na enunciação dos compromissos que, num amanhã tipo daqui a 4 anos, estará a África do Sul disposta a negociar com projectos de facto regionalmente competitivos -  PPAs 4 com notações de crédito externo (Eskom) melhor que Baa2 (Moody’s) e/ou BBB+ (S&P)? Acesso competitivo às redes eléctricas sul-africanas?

 

josé lopes

 

abril 17, 2011

 

ps 1 – carvão regional (Moçambique/Botswana): de significativo só o facto de, em caso de importações eléctricas, as carbo-emissões destas opções não poderem ser inventariadas separadamente mas terem antes que ser adicionadas às da frota de carvão sul-africano - e sobre os CDMs locais?

 

ps 2 – gás natural: por razões que me ultrapassam, a importação eléctrica baseada no gás Namíbia foi excluída da iteração IRP; quanto a Moçambique, a ausência permanece conspícua.

 

 

a segunda observação que me ocorre (continua)

4- PPA - Power Purchase  Agreement (Acordo de Compra de Electricidade)

xitizap-posfácio C

elektro diplomacias

barragem por um canudo

Moatize flashes