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Electrões aos zigzags
A segunda observação que o sul-africano IRP 2010-30 me induz diz respeito ao design e timing de futuras transmissões eléctricas em Moçambique.
Comece-se por datar o zigzag das autoridades:
(1) até 2005 admitia-se que a evacuação de electricidade de Tete para Maputo (aprox. 1500 km) poderia ser feita através de uma única linha a 400 kV AC (corrente alternada); em 2006 passou-se a promover (2) duas linhas 400 kV AC (circuitos simples) para, em 2009, se ficcionar (3) um luxuoso evacuador híbrido DC/AC (bipolo de corrente contínua ± 600 kV HVDC mais uma linha 765 kV HVAC); mais recentemente, as mesmíssimas autoridades (Governo e EDM) terão concluído que (4) a ambicionada “espinha eléctrica dorsal” Tete-Maputo deveria era fazer-se por recurso a um bipolo ± 800 kV UHVDC e uma linha 400 kV AC espalhando inúteis subestações ao longo da marginal Sul (projecto CESUL).
Tente-se agora imaginar o que poderá estar detrás de tanta baralhada.
Descontando vulgares teimosias e obstinadas subserviências, só vislumbro duas hipóteses de “razão”.
A primeira tem a ver com as distorções que têm imbuído a previsão da demanda eléctrica (exportações e mercado Sul) levando a que, via pura prestidigitação, as miragens tivessem inflado de 1500 para 9200 MW em menos de cinco anos.
A segunda razão que recentemente passou a ser invocada deriva de um paradoxo ultra-nacionalista; de facto, e em flagrante choque com os mirabolantes apetites exportadores (e com as saudáveis aspirações a um mercado eléctrico que se quer regionalmente interligado e aberto), de súbito, a electrocracia começou a deixar cair paranóicas insinuações quanto ao perigo de o Sul de Moçambique ser abastecido via África do Sul a partir de Cahora Bassa - uma dependência técnica que, note-se, desde há muito permite que a EDM beneficie de uma oferta eléctrica do mais baixo custo e com um elevado grau de fiabilidade.
Embora eu discorde radicalmente quer destes extremismos securitários quer das inconsistentes projecções oficiais de demandas eléctricas (exportações e consumo Sul), por um instante admiti a ficção 9200 MW Tete-Maputo (1500 km) e rapidamente constatei preocupantes debilidades nas soluções CESUL ora propostas.
Comece-se por notar que se algum papão securitário de facto existe, então, meus caros, eu considero que as rotas CESUL agora propostas para o principal suporte do hipotético evacuador eléctrico (± 800 kV DC) não só não respondem a quesitos básicos de uma nova segurança eléctrica nacional, como até agravam a actual exposição a vários riscos – duplicando-os exactamente nas zonas onde, historicamente, se sabe que eles (os tais múltiplos riscos) por ali já se expuseram (ver Fig 1). Cite-se por exemplo a HCB (Hidroeléctrica de Cahora Bassa):
2.5 - Linhas de Transmissão Na cadeia de transmissão de energia eléctrica, as linhas de transporte desempenham um papel fundamental, podendo constituir um nó de estrangulamento, como veio a verificar-se durante o conflito armado com o derrube de torres e durante as cheias de 2000 com a queda de outras tantas. |
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North East – Agra (multi-terminals)
The ±800 kV North-East Agra UHVDC link will have a record 8,000 MW converter capacity, including a 2,000 MW redundancy, to transmit clean hydroelectric power from the North-East region of India to the city of Agra across a distance of 1,728 kilometers. ABB has been selected by Powergrid Corporation of India Ltd. to deliver the world’s first multi-terminal UHVDC transmission link, worth $ 900 million. The link is called the ±800 kV, 6,000 MW HVDC Multi Terminal NER/ER - NR/WR Interconnector – I Project (NEA800 in short and also known as North East - Agra HVDC). The link comprises four terminals located at three converter stations with a 33% continuous overload rating and the power transmission system will thus have the possibility to convert 8,000 MW – which is the largest HVDC transmission ever built. |
The Xiangjiaba-Shanghai 800kV UHVDC project Status and special aspects (CIGRE 2010)
V. F. Lescale, U. Åström ABB AB Sweden
W. Ma, Z. Liu State Grid Corporation of China P. R. China |
External Insulation Design of Converter Stations for Xiangjiaba-Shanghai ±800 kV UHVDC Project
Dong Wu, Urban Åström, Gunnar Flisberg, Zehong Liu, Liying Gao, Weimin Ma, Zhiyi Su
Paper published on 2010 International Conference on Power System Technology, 24-28 Oct. 2010, Hangzhou, China |
Entretanto, prossigo com este conjunto de observações IRP 2010 sugerindo uma breve digressão tecnológica já que, num curto espaço de tempo, uma infra-estrutura oficialmente tida como vital, foi sujeita, não apenas a desprestigiantes zigzags voltaicos (400, 600, 765, 800 kV AC/DC) mas sobretudo a voluntarismos que, naturalmente, descambam sempre em arrivismo técnico.
Tome-se como exemplo uma recente adopção dos 765 kV AC (corrente alternada) como suporte do hipotético evacuador eléctrico Tete-Maputo: uma tecnologia de ponta que, no pouco mundo em que existe, ainda não foi sequer sujeita a todos os testes de stress quanto mais às especificidades de um Moçambique 2011 (variações de clima ao longo do trajecto e vazio de demanda nas subestações 765 kV). Sem esquecer também que, feliz ou infelizmente, este mundo tecnológico HV AC/DC ainda não é um bazar global onde, de um dia para o outro, se compram gadgets quando se quer – particularmente quando a China, Índia e o Japão pós-sismo precisam deles como de arroz para a boca.
Ainda neste tropel tecnológico, também é surpreendente constatar que, de uma completa ausência conceptual HVDC (corrente contínua) no ideal anterior, os electrocratas têm agora o despudor de sugerir um sistema UHVDC (Ultra High Voltage Direct Current ± 800 kV) – digamos que, para quem começou por não admitir transmissões via corrente contínua, tal como há anos tenho vindo a sugerir como hipótese académica, é engraçado que agora não queiram fazer a CESUL por menos de um novo-riquismo UHVDC.
Mas, lamentavelmente, a coisa torna-se-me particularmente desconfortável porque dá a entender que os autores desta nova ficção electrocrata fazem pouca ideia do actual estágio da propagação comercial dos sistemas UHVDC ± 800 kV – uma tecnologia que, apenas saída da fase R&D, só agora começa a florescer na China (2010) e Índia (2014/15).
Finalmente, e como eu quero que nada lhes falte, aqui deixo uns links sobre a matéria (actuais projectos na Índia e China). E espero bem que os leiam porque, a prazo, talvez eles se disponham a constatar que as soluções multi-terminal HVDC são um dos prováveis futuros em Moçambique (Fig 2).
josé lopes :)
abril 2011
ps — neste processo poupo 1 bilião USD à República |