o erro da Eskom
Tshwane foi há dias palco do lançamento público de dois importantes ensaios oficiais sobre o futuro eléctrico sul-africano (2010-30).
Embora ainda em fase draft ( a publicação definitiva só ocorrerá em finais de 2010 após mais uma ronda de consultas públicas polivalentes), quer o IRP 2010 (Integrated Resource Plan for Electricity), quer o MTRM (Medium Term Risk Mitigation Plan) que dele faz parte, estruturam-se como complexas narrativas técnicas que, apesar de se lerem de um só fôlego, exigem hermenêuticas que me têm obrigado a dias e dias de análises de cenários … e a repetidas leituras.
No essencial, o IRP 2010 (de 8 de Outubro) propõe-se suportar uma trajectória de crescimento do PIB sul-africano à taxa média de 4.5% durante os próximos 20 anos, o que pressupõe a adição de 52,145 MW de nova geração eléctrica (incluindo reservas, mas excluindo 3,420 MW a resultarem de programas de gestão da demanda) – tudo isto num quadro de acelerada transição de uma economia electricamente intensiva e tradicionalmente assente em carvão, em direcção a ambientes de geração eléctrica que, para além da mitigação de emissões de Gases de Estufa e de outras adversidades climáticas (escassez de água e perturbações de biodiversidade p.e.), balanceiem também outros factores tão críticos como: menor custo de investimentos e competitividade internacional de tarifas eléctricas, segurança e fiabilidade de fornecimentos, diversidade de fontes primárias, desenvolvimento regional SADC e, por último mas não menos importante, a localização e criação de empregos.
Após ponderação de múltiplos cenários e respectivos riscos, a equipa multi-sectorial encarregue da formulação do IRP 2010 (Governo, Eskom, indústrias, sector terciário, sindicatos, sociedade civil, etc.) adoptou um Cenário Balanceado Revisto que, através da combinação de enormes investimentos estatais e privados, prevê, para o período 2010-30, uma estrutura interna de geração eléctrica onde pontificarão as energias renováveis (12,400 MW de energia solar e eólica equivalentes a 26% do total) e uma nova frota nuclear (9,600 MW equivalente a 20% do total), em detrimento da opção carvão que, no mesmo período, descerá dos actuais 85% para 27%.
Contudo, apesar de prontamente endossado pelo Governo sul-africano, este ambicioso plano de longo prazo não aborda com suficiente detalhe os potenciais deficits que, à semelhança do que aconteceu aquando dos blackouts de 2008/9, poderão afectar gravemente a socio-economia sul-africana no período 2011-16. Assim, numa tentativa de obviar a situação, o governo sul-africano, e uma vez mais em parceria com todos os outros actores do sector eléctrico ao contrário do que por aqui acontece, estabeleceu uma equipa multi-sectorial com o objectivo de formular um Plano de Mitigação de Riscos a Médio Prazo (MTRM) que, através da adopção imediata de medidas extraordinárias, contribua na prevenção de blackouts por imediato recurso à aceleração de projectos de eficiência energética e de geração eléctrica não-Eskom. A Fase 1 deste plano MTRM (Diagnóstico da situação actual e Formulação do âmbito do plano) está já substancialmente completa, sendo importante notar que, para a realização da sua Fase 2 (e última), o governo, os sindicatos e o sector de negócios, consensualmente identificaram três questões-chave cuja clarificação requer a máxima prioridade: (1) como adequar a segurança de fornecimento no período 2011-16, (2) como estabelecer tarifas eléctricas suportáveis pelas camadas pobres e (3) quais os termos de financiamento para o programa de expansão Eskom, e em particular o projecto Kusile (carvão).
Como seria de esperar, esta ambiciosa e radical proposta de IRP 2010, embora geralmente bem aceite pelos sectores económicos, laborais e governamentais, já começou a suscitar algumas reacções negativas que, no essencial, giram em torno da (im)plausibilidade financeira, ambiental e temporal (procurement) da gigantesca frota nuclear ora proposta (9,600 MW operacionais em 2023/29), da relativa secundarização do potencial solar face ao potencial eólico (note-se que, numa África do Sul onde a energia eólica é praticamente inexistente, o actual IRP 2010 aposta na instalação, em menos de 10 anos, de uma capacidade eólica equivalente à da precursora Dinamarca), da (im)praticabilidade de atempadamente se estabelecerem mecanismos que equalizem os direitos de acesso às redes de transmissão eléctrica por parte dos futuros produtores privados, da (in)capacidade de a Eskom manter e/ou elevar os factores de disponibilidade (EAF) das suas actuais centrais, etc, etc.
Não me cabendo aqui ensaiar uma exegese deste draft IRP 2010, acho no entanto oportuno abordar brevemente algumas das suas implicações regionais a nível SADC, em particular as que interagem com Moçambique.
Comece-se por notar que, por razões eminentemente políticas sugeridas por alguns departamentos governamentais sul-africanos, a equipa IRP 2010 dispôs-se a equacionar dois cenários de desenvolvimento dito regional (RD 0.0 e 0.1) que interrogam os méritos e deméritos de todas as opções de importação realisticamente disponíveis para a África do Sul – a saber: (a) importação de Moçambique (projectos hidroeléctricos de HCB-Norte, Mphanda Nkuwa, Ocua e carboníferos de Moatize/Benga), (b) da Zâmbia (projectos hidroeléctricos de Kariba Norte-expansão, Kafue, Ithezi Tezhi), (c) do Botswana (projecto de carbonífera Mmamabula) e (d) da Namíbia (projecto gás natural de Kudu). Surpreendentemente, em nenhum dos cenários IRP 2010 se considera a hipótese de importação de geração eléctrica a gás natural de Moçambique (nem Moamba, nem Temane).
Entretanto, em todos estes casos de hipotética importação regional SADC, a prevalência de grandes incertezas técnicas e financeiras a nível da transmissão eléctrica, em particular quanto aos novos centros de geração junto ao Zambeze, não permitiu que no IRP 2010 se incorporassem os previsivelmente altos custos destas transmissões, tendo-se por isso modelado um valor de referência na ordem de 15 cR/kWh como input para esses custos em território sul-africano.
Balanceados os méritos e riscos das opções de importação [em particular os riscos de grande dependência do Zambeze e cercanias como fonte energética, para além de uma indesejável concentração num único país (Moçambique)], o cenário seleccionado para estruturação do IRP 2010 (Cenário Balanceado Revisto) prevê que só a partir de 2020 será necessário iniciar importações hidroeléctricas da Zâmbia (expansão de Kariba Norte – 360 MW) seguida de Kafue (750 MW) em 2021;quanto às opções moçambicanas, o cenário prevê a hipótese de operacionalização de Mphanda Nkuwa apenas em 2022 e da HCB-Norte em 2023. Quanto às hipóteses de importação eléctrica a partir da bacia carbonífera de Tete, o IRP 2010 admite iniciar o exercício por recurso a duas tranches de 500 MW em 2027/28.
Embora estas previsões de importações sul-africanas nos possam servir como interessantes referenciais de comércio e integração eléctrica regional SADC a longo prazo - e para isso há que trabalhar duro, bem e transparentemente em termos de planeamento -, quer a sequência, quer o timing destas preferências sul-africanas constituem um rude mas oportuno golpe para as extemporâneas aspirações dos que sempre quiseram vender-nos a África do Sul como uma miragem de rapidinhos lucros … mesmo que para isso se permitam incumprir os procedimentos legais na pouco transparente obtenção de licenças ambientais, como aconteceu recentemente com Mphanda Nkuwa; incidentalmente, e ainda a este propósito, importa recordar, não só o cronograma de pontos de decisão para os projectos IRP 2010, mas também as recentes declarações de Brian Dames (CEO Eskom) explicitando que, no quadro do IRP 2010, qualquer decisão sobre a operacionalização de Mphanda Nkuwa em 2022 implicará, necessariamente, a avaliação do seu Estudo de Impacto Ambiental.
Finalmente, é importante frisar que, apesar do mérito da sua tentativa de enquadramento regional SADC, este plano IRP 2010 permanece, no essencial, uma auto-centrada visão sul-africana que, não obstante a sua importância, em pouco ou nada reflecte as aspirações estratégicas de desenvolvimento de Moçambique e suas concomitantes necessidades eléctricas. E terá sido esta a possível razão pela qual a Eskom considerou como verdade axiomática a contínua importação de 1500 MW de Cahora Bassa durante todo o período 2010-30 – o que é um erro já que, sendo Cahora Bassa finalmente nossa, dela nos abasteceremos sempre e quando precisarmos …mesmo que isso implique ter que ir reduzindo a enorme fatia de importações sul-africanas da HCB.
josé lopes
Outubro 20, 2010 |
xitizap
posfácio A
outubro 2010 |
Xitizap chegou ao seu fim.
josé lopes
junho 2010
ps – sete anos e milhão e meio de hits depois, o baú xitizap (#1 a 55) continuará online … em www.xitizap.com |
A Mozal, um multinacional de alumínios que opera em Moçambique, anunciou hoje o adiamento da emissão directa de gases para a atmosfera por tempo indeterminado, apesar de iniciar na segunda-feira a reabilitação dos centros de tratamento de fumos.
"O Projeto dos Centros de Tratamento de Fumos (CTF''s) vai ter início a 01 de novembro de 2010, conforme planeado. No entanto, o ''bypass'' (livre emissão de fumos para a atmosfera) contínuo, originalmente programado para o mesmo dia, foi adiado, enquanto respondemos a solicitações adicionais de informações por parte das partes interessadas", anunciou hoje a Mozal, em comunicado.
Em Abril, a MOZAL solicitou ao Ministério da Coordenação da Acção Ambiental (MICOA) uma licença especial para emitir fumos diretamente para a atmosfera, durante seis meses, enquanto decorresse o processo de melhoramento e reabilitação de dois dos centros de tratamento de fumos.
Afortunadamente, foi também em Abril 2010 que uma vasta coligação moçambicana de organizações ligadas à defesa dos direitos humanos e ambientais soube conquistar a atenção da opinião pública, particularmente através de órgãos media não comprometidos com as oficiais poluições, tendo-se hoje (29 Out 2010) assegurado que, apesar de todos os governamentais apoios, a multinacional Mozal tivesse optado por evitar o início do seu descontrolodo despejo de emissões não-filtradas a 1 de Novembro 2010 (o dia dos mortos).
Ufff, ufff ... |
Mozal suspende bypass
Out 29, 2010 |
IDC keeps MUM over Moz polluting smelter
Oct 14, 2010 7:37 PM| By Sapa via www.timeslive.co.za (extracts)
The Industrial Development Corporation of SA (IDC) on Thursday declined to comment on environmental studies of its aluminium smelter in Mozambique.
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BHP Billiton postpones Mozambican pollution
extracts |