in xitizap # 16

 

e ainda sobre contingências ...

 

praticamente no final do encontro (reunião de partes interessadas e afectadas pela Mozal, outubro 2004),

tive oportunidade de colocar uma outra questão a propósito de um incêndio que em abril 2004 causou sérios danos ao Centro de Tratamento de Fumos (FTC) do smelter de Hillside - o gémeo da Mozal em Richards Bay, também controlado pela BHP Billiton.

 

É que, em resultado deste acidente industrial, a 5 de outubro 2004 a alumineira descarregou montes de merdas para o ar ao ter que operar em bypass do FTC durante 72 horas.

 

Uma das coisas que surpreendeu toda a gente foi o facto de, em 7 meses, a BHP Billiton não ter sido capaz de encontrar uma solução menos agressiva.

 

E é por estas e por outras que julguei oportuno colocar a seguinte questão:

 

para a Mozal

e num cenário de produção 500 a 750 000 toneladas de alumínio por ano, quais são, em termos ambientais, os piores-casos a considerar ? ... e quais os respectivos planos de contingência ?

 

 

josé lopes

 

auditório TDM

meeting 28 outubro 2004

 

 

obsv: dado que a resposta Mozal se perdeu no abrupto encerrar do meeting, enviei a questão por e-mail. A Mozal prometeu uma resposta para breve.

 

in xitizap # 16

fumaças e labaredas

Text Box: in xitizap # 18

na sequencia do incêndio que em Abril 2004 deflagrou no FMT (centro de tratamento de fumos) do smelter Hillside (Richards Bay, RSA), a BHP Billiton decidiu-se pela alternativa de um by-pass durante 59 horas.
Previamente autorizada pelo DEAT (Department of Environmental Affairs and Tourism), a manobra ocorreu em Outubro 2004 e caracterizou-se pela emissão de incontroladas doses de poluentes vários – e pela divulgação em Richards Bay de um comunicado da alumineira sugerindo “aos asmáticos e outros com problemas respiratórios” que permanecessem recolhidos em suas casas.

Ainda mal refeitos da dose cavalar de gases e químicos de Outubro 2004, em Fevereiro 2005 os habitantes de Richards Bay são surpreendidos com novo requerimento da Hillside Aluminum para mais um by-pass neste gémeo da Mozal.
Tudo indica que as operações de emergência não terão corrido bem e, para a Billiton, a população teria que “fazer mais um esforço pulmonar”. Felizmente, e para surpresa geral, o DEAT recusou-se a autorizar este novo escapismo alumineiro.

Sobre este assunto, tive oportunidade de conhecer a opinião da Mozal (ver e-mails seguintes). E o que dela retenho dela preocupa-me um pouco.
Basicamente por duas razões: desde logo pela enfatuada soberba tecnológica do marketing Mozal. Mas sobretudo porque, assim à distancia, os factos parecem indicar que a Billiton, um recém chegado às fundições alumineiras, poderá não dominar perfeitamente a intervenção correctiva e/ou alguns sectores críticos da manutenção proactiva – como sugerível pelo caso Hillside.

Mas também porque todas as evidencias sugerem que a Billiton escolhe sempre a prioridade dos seus interesses imediatos – mesmo que seja à custa da saúde dos muitos outros.

josé lopes

 

Resposta Mozal (via e-mail novembro 2004)

(acentos e pontuação mozal)

 

O incendio em Hillside foi motivado pelo acumulo de material originário da queima incompleta das fracções leves do piche  (aglutinante das diferentes fracoes do coque)  as quais evoluem normalmente no processo de cozimento do anodo. A queima incompleta das fracçõoes leves do piche acontece principalmente quando há demora em mover os “fires” devido a avaria da ponte rolante. Como este material não foi retirado através de um plano de limpeza preventivo adequado a quantidade de material gerado gerou o incendio no “main ring” e na chaminé.

O plano preventivo de limpeza em Hillside foi basicamente revisado e situacoes como estas foram devidamente  corrigidas.

 

Não vemos este fenomeno acontecer aqui na Mozal devido a:

 

Na Mozal os fires delay são praticamente inexistentes. Hillside teve uma historia de até em media 3 horas em média por dia nos idos de 1998/1999.

Na Mozal os dutos e o tratamento de gases são limpos de uma forma períodica não havendo acumulo de material o qual pode causar um fire como o de Hillside.

Na Mozal, quem opera os fornos de cozimento também opera o tratamento de gases, havendo portanto uma perfeita sinergia no que concerne a manutencao.

 

Gostaria de alertar, que fire em forno de cozimento pode acontecer por diferentes causas. Podemos porém garantir que os sistemas existentes na Mozal hoje cobre todas as possibilidades conhecidas.

 

Com relacao ao cenário produtivo de 500 para 750 TPA devo salientar que acidentes desse tipo não estão ligados ao tamanho da fábrica ou capacidade nominal mas diretamente ao nivel operacional e a sistemas colocados para evitar tais acidentes. Devido aos sistemas ja colocados e ao nível de excelencia operacional da Mozal ( reconhecido mesmo pelos competidores) um acidente deste tipo muito dificilmente  podera  acontecer.

 

Neste tipo de casos de incendio, não existe plano de contigência. Se o main ring é afetado de tal forma que não se possa manter a retirada dos gases do forno então o forno é desactivado até que o main ring seja re-estabelecido. No caso do FTC ser afectado então pode haver dois cenarios:

 

Primeiro onde o sistema de by-pass não é afectado e assim faz-se o by-pass enquanto se conserta o duto

Segundo o fogo não danifica o FTC de tal modo que pode se continuar operando o forno até que se finalize os planos de recuperação ( como o que aconteceu em Hillside) e aí se coloca o forno em by-pass por 56 horas até os reparos serem feitos exactamente como aconteceu em Hillside.

 

Por último gostaria de recebe-lo na nossa fabrica de forma que possamos demonstrar como que nossos fornos são operados no nível de excelencia do qual nos orgulhamos.

 

Mozal

 

in xitizap # 18

 

relativamente a este tipo de acidentes nunca anteriormente antecipado pelos vários estudos ambientais BHP Billiton, coloquei via e-mail 28 outubro 2004 a seguinte pergunta à Mozal:

 

Tendo presente, por exemplo o recente incêndio no FTC em Hillside e bypasses de Outubro 2004, quais são, na opinião da Mozal, os worst-case scenarii ambientais susceptíveis de ocorrência num horizonte produtivo de 506 a 750,000 TPA de alumínio ?

Quais os respectivos planos de contingência ? O MICOA está informado deles ?

xitizap # 18

abril 18, 2005

in xitizap # 22

 

 

Dr. Strangelove na Mozal

 

Tem sim ! Tem sim !

 

reclamou estridentemente o Herr Direktor da Mozal em resposta à minha observação quanto a inadequados planos de contingência.

 

Note-se que, mui timidamente como é meu hábito, eu apenas procurava recordar o que a Mozal tinha confirmado meses antes aquando da avaria grave no Centro de Tratamento de Fumos no smelter Bayside (check e-mail Mozal em xitizap # 18).

 

Megafone na mão, e olhos faiscando o que me pareceu ser flúor, Herr Direktor pulou auditório acima com um sorriso que prenunciava um golpe decisivo. E confesso que, por momentos, cheguei a pensar que era dessa que ele me cozinhava – num grande pot de ebuliente alumínio.

 

De súbito, Herr Direktor muda o tom e, fascinado, começa a contar uma estória de fadas.

 

Tudo se passava em cenários de Centros de Controle de Emergência da BHP Billiton: salas enormes onde freneticamente pululavam batas imaculadamente cinzentas, paredes repletas de écrans vomitando cotações das bolsas várias, baterias de computadores piscando frenéticos alarmes – e sobretudo muitos relógios mostrando a hora local em cada um dos muitos centros de risco industrial da BHP Billiton.

 

O controle de contingências BHP Billiton parecia saído de uma cenografia de Stanley Kubrick e, com o devido respeito a Peter Sellers, a coisa fazia-me lembrar Dr. Strangelove.

 

Segundo o Herr Direktor da Mozal, todos os planos de contingência Billiton são coordenados a partir de Londres, e existem regras muito estriktas para o seu controle. Os acidentes industriais são hierarquizados segundo a sua gravidade e, para cada um deles é prescrito um tempo e canal de comunicação. Um parafuso partido em Valesul deve ser comunicado ao sub-sub-sub-chefe A em X minutos, uma porca que em Alumar não torce o rabo é transmitida ao sub-subchefe B em menos de Y minutos, um cenário de greve em Hillside não pode levar mais que W minutos a ser transmitido ao sub-chefe C e, teoricamente, a recente descarga de FUMOS em Bayside deverá ter sido comunicada ao chefe D em menos de 30 segundos. Na Mozal, em certos casos, é mesmo possível interromper a partida de golfe do CEO BHP Billiton num relâmpago de micro-segundos.

 

E como que para provar a existência de adequados Planos de Contingência o Herr Direktor Mozal descreveu então um recente ensaio na Mozal: a ocorrência de um ciclone.

 

Curiosamente, o método escolhido para a demonstração só pode ter sido o da redução ao absurdo já que, segundo ele, o ensaio provou que a Mozal não estava preparada para estas frequentes ocorrências tropicais; aparentemente, tudo estaria bem menos uma simplíssima coisa: os técnicos que lá deveriam estar não conseguiriam chegar à Mozal a tempo e horas. Daí que o Centro de Coordenação de Riscos em Londres haja sugerido que tais técnicos passassem a residir, não em Maputo, mas em Beluluane – bem debaixo das atmosferas que influenciam.

 

Talvez assim eles venham a perceber melhor as comunidades locais.

 

josé lopes

 

ps – estas notas baseiam-se me factos reais ocorridos durante a reunião pública de 21 Outubro 2005; neles só meti um bocadito de sal, pimenta e flúor para melhor contar a estória.

 

in xitizap # 22

 

notas sobre

 a Reunião Pública Mozal

 

21  outubro 2005

 

Alerta

 

SOSMOZAL e Saúde Pública

 

Em comunicado hoje inserto no jornal Notícias (Junho 21, 2010), a organização ambientalista JÁ – Justiça Ambiental alerta o público para os graves perigos inerentes à iminente possibilidade de a alumineira Mozal (Beluluane/Matola) vir a operar os seus Centros de Tratamento de Fumos e Gases em regime de escape directo (bypass dos filtros) durante 6 meses!

 

Esta aberrante hipótese operacional deriva da necessidade de a Mozal proceder à urgente reabilitação dessas suas unidades de filtragem e, embora ainda não tenha sido aprovada pelo MICOA (Ministério para a Coordenação e Acção Ambiental), ela parece estar a ser considerada como a solução mais viável de entre as três apresentadas pela Mozal (1. paragem dos fornos, 2. aumento da temperatura dos ânodos, 3. bypass contínuo dos filtros durante 6 meses).

 

Dada a gravidade da questão, julgo oportuno trazer à colação três webpages que sobre este tipo de assunto publiquei em Novembro 2004 (xitizap # 16), Abril 2005 (xitizap # 18) e Novembro 2005 (xitizap # 22).

 

josé lopes

 

junho 2010

 

xitizap # 55

 

junho 2010

 

xitizap # 55

 

junho 2010