xitizap # 29 |
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Eclipse em Mphanda Nkuwa
No Zambeze, a tensão crescia a passos de girafa e, nas margens da garganta, pairavam já os espectros de todos os eclipses – fauna desorientada, flora murcha, terra emudecida.
Embora não houvesse certezas quanto a datas, previa-se que o eclipse ocorresse entre 3 a 5 de Novembro (meridiano de Beijing) – mais dia, menos dia. Era pelo menos o que sugeria um recente memorando de entendimento hidroeléctrico em Mpanda Nkua.
Soado o gong abrindo o Indaba no Grande Yamen, os astrónomos passaram aos últimos ajustes focais enquanto, nervosamente, reviam as tabelas pela enésima vez.
Começava também a grande espera – sobretudo para quem, como eu, dispunha de cálculos que não batiam certo com os do oficial eclipse.
E esperei, e esperei. E com oriental paciência, como sempre me ensinou o mandarim.
Até que, lidas e relidas toneladas de press-releases do Grande Yamen, me permiti concluir que, afinal, não foi desta que se eclipsou o Zambeze em Mepanda Uncua.
Como devem imaginar, ao invés de frustração astronómica, este não-acontecimento trouxe-me conforto.
Em particular porque, em Mphanda Nkuwa, a extemporânea insistência na barragem nunca me pareceu coadunar-se com os grandes desígnios do Zambeze. E, como dizia o outro, Deus não joga aos dados – em particular quando trata de Água.
Arrumadas as ópticas, laptops e emoções, sete vezes cruzei a nado o Zambeze – e sete vezes venerei Confúcio pela transitória tranquilidade do adiar destes paredões.
Embora curtos, estes três anos de adiamento sino-moçambicano em Mphanda Nkuwa parecem-me extremamente valiosos - permitem refrear meta-economias, refrescar créditos públicos e confirmar se, sim ou não, a CVRD semeará uma mega-planta de carvão em Moatize.
josé lopes
novembro 2006
no Grande Yamen de Maputo
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