proliferação nuclear |
Ilaria, meu amor faz tempo que não te escrevia, e só mesmo a proliferação nuclear nesta zona me levaria a perturbar tua paz. Isto porque, tal como dizias há anos, as gangs da proliferação andam muito por aqui ... Como sabes, a estória é longa mas, hoje, quero apenas contar-te o mais recente capítulo. Tudo gira à volta de um sofisticado torno-mecânico necessário para maquinar centrifugadores usados no enriquecimento de urânio para armas nucleares. Um sinistro projecto conhecido como machineshop 1001. O capítulo de hoje começa quando, há alguns meses atrás, a Libia de Khadaffi começou a cantar alguns segredos do seu projecto de armas nucleares. Perante audiencias recheadas de secretas britânicas e US, a Líbia ainda hoje trauteia árias atómicas alegadamente escritas por Abdul Qadeer Khan - o pai da bomba nuclear do Paquistão. O filme abre com imagens da detenção do alemão Gerhard Wisser - na Alemanha, a 25 de Agosto 2004, e sob acusação de "ajudar tentativas de desenvolvimento de armas atómicas". Nomeadamente como intermediário no abortado fornecimento de tubos especialmente desenhados para enriquecimento de urânio a uma mega-rede de contrabando de tecnologia nuclear. Em comunicado oficial, a procuradoria alemã refere que a extensão do envolvimento de Gerhard Wisser na rede de Abdul Qadeer Khan continua sob investigação. O comunidado acrescenta que um outro cidadão alemão, Gotthard Lerch, residente na Suíça, estava igualmente sob investigação a propósito do mesmo assunto. Segundo os media, a polícia suíça efectuou buscas a três empresas detidas por este marchand de tecnologia nuclear. Dias depois, Gerhard Wisser era libertado sob fiança. E partia para a África do Sul - país onde reside desde há muito. Machine Shop 1001 O primeiro sinal de uma conexão sul-africana à rede Khan veio em Outubro 2003, aquando do arresto de um cargueiro alemão que rumava à Libia com maquinaria de alta precisão. O arresto permitiu às secretas britânicas e US tracear as origens da carga, e chegar à Scomi Precision Engineering - na Malásia. A polícia malaia entrevistou então um tal Buhari "BSA" Tahir, cidadão do Sri Lanka normalmente baseado no Dubai. E foi graças a ele que começaram a emergir os primeiros detalhes do bazar atómico dirigido por Khan. Tahir, descrito pela bófia americana como "director financeiro (CFO) e lavador de dinheiro" da rede Khan, foi acusado pelas autoridades malaias de activo envolvimento na aquisição de componentes cruciais para o programa líbio de armas de destruição massiva - WMD em vertente nuclear. Entretanto Tahir, que ainda se encontra detido na Malásia, farta-se de contar estórias - e ocasionalmente dois ou três factos. E um deles coloca Gotthard Lerch na África do Sul tentando adquirir maquinaria para produzir centrifugadores a gás - na Libia. de regresso à África do Sul Em Setembro 2004, e sob dica alemã, as autoridades sul-africanas (Scorpions) lançaram uma operação contra a proliferação de armas de destruição massiva. Segundo os Scorpions por razões de ordem táctica a operação começou com a detenção do metalurgista Johan Meyer - proprietário da Tradefin Engineering, na zona de Pretória. Ao primeiro assalto às instalações da Tradefin (em Vanderbijlpark) os Scorpions encontraram 11 contentores que, para além de sofisticada documentação técnica (sobretudo a nível de desenhos), escondiam máquinas e componentes utilizados no enriquecimento de urânio para armas nucleares. Após alguma conversa entre os Scorpions e Johan Meyer, a polícia sul-africana deteve o tal Gerhard Wisser (66) - para além de Daniel Geiges (65). Ambos são directores da Krisch Engineering - uma empresa especializada em tecnologia de vácuo e metalurgia de precisão, e que também representa equipamentos vários, nomeadamente para centrais eléctricas da Eskom. Acusados de violação às leis sobre Energia Nuclear e Não-Proliferação de Armas de destruição Massiva (WMD), Wisser e Geiges continuam detidos enquanto decorrem audições relativas aos seus recurso de fiança. Entretanto, tudo indica que Johan Meyer aceitou virar testemunha da acusação (o Estado sul-africano) - tendo desaparecido após rápida libertação. Sem explicações, as autoridades sul-africanas retiraram todas as acusações que sobre ele pendiam. Segundo os media, durante a era-apartheid, Johan Meyer havia trabalhado como engenheiro para a então Atomic Energy Corporation (AEC) - e é sabido que as relações de negócio entre a Krisch de Wisser e a Tradefin de Meyer vêm de há muito. as armas nucleares do apartheid conta-se que, historicamente, a África do Sul terá sido o único país do mundo a desmantelar unilateralmente o seu programa de armas nucleares. E a este propósito reporta-se que, após construção e teste de seis bombas atómicas, em 1991 FW Klerk - líder do então defunto apartheid - ordenou a interrupção da montagem da sétima WMD, e o desmantelamento do programa militar nuclear sul-africano. Rápido, e antes que chegasse o poder da maioria sul-africana. Renfrew Christie, um cidadão sul-africano preso durante sete anos pelo governo do apartheid sob acusação de espionagem nuclear a favor do ANC, acredita que o velho programa nuclear da África do Sul foi completamente eliminado. Decano de pesquisa na Universidade de Western Cape, Renfrew Christie refere que a eliminação do velho programa serviu múltiplos interesses - desde os do ANC, aos dos USA e UK. Christie informa que o equipamento do velho programa foi destruído - ou guardado em segurança. Em qualquer dos casos, o dito equipamento estaria hoje altamente desactualizado, segundo ele refere. Mr. Christie acredita igualmente que foi dado devido tratamento a outro dos importantes valores do velho programa - os cerébros, e a disponibilidade de know-how tecnológico. Sobretudo em Pelindaba - uma estação de pesquisa de ponta onde actualmente tergiversa o famoso PBMR (pebble bed modular reactor). Um reactor baseado numa licença tecnológica alemã. Ainda segundo Mr. Christie, a esta elite tecnológica - the flesh and blood and the brains - foi atribuído um regime de pensões e regalias concebido com o propósito de evitar que se vendessem almas aos vários diabos. Incidentalmente, nos corredores da última reunião em Viena, para além do programa nuclear do Irão, a Agencia Internacional de Energia Atómica, a ONU e a África do Sul acharam por bem investigar melhor o que se passa nas terras do Rand. até mais ... ps - segue um beijo em attachment josé lopes pelindaba outubro 2004 |
Ilaria Alpi e as rotas radioactivas |
fotos num tribunal sul-africano #1 - Johan Meyer # 2 - Gerhard Wisser e Daniel Geiges |